quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Dolores e Maysa - Quebra de Paradigmas

Dolores e Maysa passam a atuar como compositoras no momento exato em que ocorre no cenário musical, o início da ruptura entre o velho e o novo. Ouvem-se os primeiros acordes dissonantes da bossa nova e, ao mesmo tempo, se prenuncia no corpo social um novo tempo para as mulheres. Elas aparecem impondo seus pontos de vista e falando, pela primeira vez, de sentimentos e ressentimentos, sem fazerem de suas palavras o eco da palavra dita feminina.
Podemos também atribuir as duas a difusão de um estilo mais intimista e coloquial na nossa música popular urbana, que ficou conhecido mais tarde como música de fossa. Se a maioria das canções autorais revelava angústia existencial, é porque sentiam na alma o que representava para a mulher a busca de identidade e a consciência do direito de poder e ter desejos individuais. Isto quando a regra geral determinava que devessem somente desejar o bem-estar e a felicidade dos seus, esquecendo totalmente de si mesmas. Individualmente, ao quererem cada uma, do seu modo, ter uma vida independente, afastaram-se do modelo instituído, desfazendo-se de alguns padrões de feminilidade “naturais” da mulher do seu tempo.
E não é fácil ser diferente, principalmente quando essa postura perante a vida significa insubmissão e vontade de mudar. Se por um lado é gratificante, por outro é bastante penoso, porque envolve perdas, solidão e degredo social. Tudo isso ficou registrado nas letras de música que fizeram.
As duas deixaram uma produção musical restrita, devido a morte prematura de Dolores em 1959 e ao exílio voluntário de Maysa em 1961 (passou a cantar muito mais músicas de outros autores do que compor suas próprias canções).
Mas é importante recuperar sempre na memória musical o caráter revolucionário de suas composições considerando principalmente o momento em que foram lançadas.

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