quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Ô ABRE ALAS, QUEREMOS PASSAR

Ao fazer um tributo a Dolores e Maysa eu não poderia neste blog deixar de prestar, também, uma homenagem a Chiquinha Gonzaga, que brilhou entre dois séculos ficando no Panteão da Música Brasileira altamente reconhecida – maior entre maiores – como grande compositora e maestrina (mesmo que eu tenha ressalvas às letras em que ela fala da mulher, pois não diferem nem um pouco do discurso masculino da sua época). Afinal, admito que nesse caso seria querer demais. Estamos nos reportando a um tempo onde mulher era um zero a esquerda na sociedade. Daí, para coadunar uma conduta pessoal rebelde e combativa a um discurso contestador, reivindicativo que manifestasse o pensamento feminista como é expresso atualmente seria praticamente inadmissível. Mas, bem que seria o máximo da glória ouvir em algumas das suas composições uma defesa veemente da integridade sexual da mulher e pela transformação de papéis sociais, batendo de frente contra o imaginário coletivo eminentemente masculino, daquela época, não é mesmo?
Deixando as elucubrações de lado o que importa aqui é o fato dela ter sido altamente precursora na sua vida de mulher e artista profissional ao ter a audácia aguerrida de enfrentar todos os preconceitos de gênero que recaiam sobre seu sexo. Mostrou que sua especificidade genética de “fêmea criadora” não lhe impedia a criatividade musical.
Como legado de toda uma vida produtiva – além da recompensa da vitória nas lutas empreendidas pela abolição da escravatura e também em favor de sua própria libertação, ao fazer pouco caso dos grilhões morais com que tentaram acorrenta-la a uma vida comum de perfeita dona de casa mostrou que tudo que fez valeu a pena. E como valeu! Ela deixou-nos um acervo de mais de duas mil composições.

Ela lutou, pariu, criou.
Ela é da lira
Quem há de negar?



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