Resolvi atualizar essa postagem - nesse mês de novembro - para que Nunca Esqueçamos que a "Violência Contra a Mulher" tem ainda muita luta ainda pela frente.
Ela já foi publicada em 21/03/2009 com o seguinte título: "Eliane de Grammont. Um marco decisivo no combate a violência contra a mulher".
Amélia de você
Lançada– 1977 / 1978
Elena de Grammont / Eliane de Grammont
Samba-canção
Intérpretes que gravaram em 1978: Ângela Maria e tb, Edith Veiga
Tentei mudar você
Não consegui e desisti porque
Você não tem mais jeito
Cansei de ser Amélia santa e boa
Que esquece que perdoa
Seus defeitos
A vida com você é uma loucura
Me deprime e me satura
Ser Amélia já era
Tentei mudar você
Não consegui não deu
Quem deve então mudar sou eu
Mas acontece que eu choro eu falo
Anoitece e eu me calo
Pra pensar só em você, cheia de amor
Seus erros, seus defeitos já não importam
Não tiro os olhos da porta
Para ver você entrar e me beijar
E toda encolhidinha nos seus braços
Não escondo e nem disfarço
Toda minha emoção
Tentei mudar você não consegui porque
Nasci para ser Amélia de você
Nasci para ser Amélia de você.
O que aconteceu com Eliane de Grammont?
Eliane de Grammont, autora da música e letra acima, feita em parceria com a irmã, (cabe
aqui uma correção: ver abaixo, solicitação de Adriana de Grammont que
corrige o dado pesquisado por mim sobre a parceria da música como sendo
com uma irmã da Eliane. Pelo informe recebido, a parceira Helena de
Grammont, na música acima citada, é na verdade, mãe da vítima) que além de compositora era cantora na década de
70. Em 30 de março de 1981, ela foi assassinada covardemente, quando se
apresentava no palco de uma casa de show na capital paulista. O autor
dos disparos, Lindomar Castilho, ex-marido da vítima – também cantor e
compositor de boleros – e um dos maiores vendedores de discos do Brasil
nos anos 70, foi, inclusive, consagrado em 1977, como campeão de vendas
no México e na Califórnia.
Por
essa época, ela o conheceu, começaram a namorar e, em 1979 casaram. O
matrimônio a fez abandonar a carreira profissional para se dedicar
unicamente ao lar e cuidar da filha, fruto da união dos dois. Mas, o
casamento não durou muito tempo. Eliane, aos 26 anos pediu a separação, o
que Lindomar não aceitou de bom grado, levantando suspeitas de que ela o
estava traindo, deixando-o, por ter um envolvimento extraconjugal com
Carlos Randall, primo do cantor, o qual passara a acompanhá-la ao violão
na medida em que ela voltou a fazer shows.
Três
meses depois de separada, quando cantava no bar Belle Epoque, no bairro
da Bela Vista, em São Paulo, Eliane levou cinco tiros pelas costas
chegando uma bala, ainda a ferir também o violonista Randhal. Lindomar
foi preso em flagrante. Nos autos do processo ficou comprovado a
premeditação de forma covarde e bárbara, pois o homicida antes de ir até
a casa de show aonde a ex-mulher se apresentava, havia comprado um
revólver calibre 38 e balas do tipo "dundum", que ao perfurar a vítima
explodem dentro do corpo causando lesões intensas e irremediáveis.
A Repercussão do Homicídio
O
crime gerou de imediato, grande comoção na sociedade paulistana onde,
Eliane, voltando à ativa tinha grande receptividade do seu público,
sendo muito admirada como cantora, prenunciando uma carreira promissora
pela frente.
Esse
homicídio cruel, com requintes de perversidade, tornou-se um caso
emblemático em função da decisiva manifestação organizada pelo movimento
feminista, mobilizado durante todo o julgamento, a fim de não deixar a
impunidade mais uma vez prevalecer.
Acontece que, até aquela época, assassinatos da mulher por maridos ou companheiros eram considerados pela lei penal “crime de ação privada” e nas decisões judiciais o procedimento comum da defensoria do réu era alegar “legítima defesa da honra”.
Mas esse artifício processual, aqui no Brasil, já não colava mais como
antes, quando era aceito como o maior atenuante pelo júri na soltura do
acusado. Isso, graças à pressão dos grupos de mulheres – que se
disseminavam pelas cidades brasileiras. Então, a defesa do cantor tentou
outros meios de amenizar-lhe a culpa, resvalando para o “delito de ordem passional” que mediava a infidelidade conjugal como sendo argumento principal. Alegou o ciúme como motivo propulsor da "privação de sentidos"
do réu na ocasião exata do crime. Porém, o empenho coletivo das
mulheres já engajadas na luta feministas, combatendo veementemente a
violência contra a mulher, transformou-se em um marco na história
jurídica brasileira ao condenar por homicídio doloso o cantor a 12 anos
de prisão por meio de um júri popular, no dia 23 de agosto de 1984.
Apesar disso tudo, Lindomar Castilho ficou preso somente, até 1988,
quando obteve liberdade condicional.
Segunda Onda do Feminismo – Um divisor de águas
Contribuiu
para essa mudança de mentalidade a “segunda onda do feminismo”, formada
em meados de 60 nos Estados Unidos e Europa, passando ininterruptamente
a acumular mais conquistas do que derrotas até que na década de 70,
inicia de vez o processo organizativo das mulheres por quase o mundo
inteiro. No cenário nacional, a exemplo de outros países, o novo
feminismo começa com os grupos de reflexão (poucos, porém polêmicos e
combativos). Segue daí por diante, uma trajetória ascendente de
enfrentamento em defesa de direitos e autonomia plena da mulher. O
movimento feminista deu uma guinada total na vida das mulheres
estimulando a criação de ONGs Feministas, Associações Comunitárias de
Defesa da Mulher, Fórum de Mulheres, Delegacias da Mulher,
Coordenadorias e Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da Mulher
e Casas Abrigo das vitimas de violência em eminente perigo de morte.
Não pule fora desta luta,
Diga não a violência contra a mulher
Vale
aqui uma ressalva: a semente que germinou tudo o que agora existe e o
mais que, ainda está por vir, para melhorar a qualidade de vida das
mulheres e proteger seus direitos fundamentais, começaram com as
campanhas que as mulheres empreenderam exigindo que a justiça fosse
feita a todo custo, a começar pelo julgamento do crime contra Eliane e
continuando, até então, em processo contínuo por tantas outras mulheres
assassinadas, agredidas e violentadas e que deram visibilidade maior às
ações e manifestações dos grupos feministas.
Conquista do Movimento de Mulheres, Afinal Legalizada
Pra melhor esclarecer sobre a denominação de Maria da Penha dada à Lei n°11.340/06, promulgada em 7 de agosto de 2006, é bom saber quem é essa mulher.
Pois
bem, a biofarmacêutica Maria da Penha é uma sobrevivente do morticínio
tragíco e descomunal de mulheres – último estágio da violência conjugal.
Foi agredida durante anos pelo então marido, Marco Antonio Herredia,
que não satisfeito com as ofensivas atentou contra a vida dela por duas
vezes. Em 1983, ele desfechou contra Maria da Penha um tiro nas costas deixando-a paraplégica.
Cabe
aqui um parêntese: são incontáveis no Brasil as inúmeras vítimas desse
grave drama que se mostra estatisticamente cada vez mais exorbitante. E
tudo resulta de um machismo sem freio, que prima pela covardia sob a conivência da sociedade A característica
primordial da criminosa brutalidade sexista, até então vigente, está
amparada, antes de mais nada, na falsa suposição do poder absoluto do
homem ante à submissão incondicional da mulher.
Voltemos,
pois a Maria da Penha. Mesmo imobilizada a uma cadeira de rodas, ela
jamais esmoreceu no seu objetivo de que a justiça fosse feita.
Daí
em diante, lutou por anos e anos seguidos até conseguir que o seu
agressor fosse condenado. Agora, tornou-se símbolo contra a violência
doméstica.
Em 2001,
dezoito anos após o atentado que a imobilizou para sempre numa cadeira
de rodas, alcança uma grande vitória ao ver a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos responsabilizar o Brasil por omissão e negligência em
relação à violência doméstica. Mas, somente em 2003 (exatamente 20 anos depois) o ex-marido de Maria da Penha, condenado pelo crime cometido, vai para a prisão.
Enfim,
Maria da Penha é homenageada com a lei trazendo seu nome, não só por
por sua batalha para dar um veredicto ao seu caso específico. Foi
fundamental o trabalho incessante em busca da punição judicial
finalizada na sentença condenatória. No entanto, seu esforço teve o
reconhecimento merecido pelo combate que travou o tempo inteiro na
aprovação dessa lei determinatória de normas jurídicas punitivas a todo e
qualquer modo de violência contra a mulher brasileira. Destarte,
durante a cerimônia aonde a lei foi afinal sancionada, falou e disse
essa cearense combativa :
“Essa lei representa os primeiros passos na direção de um mundo onde homens e mulheres vivam harmoniosamente”.
A Casa Eliane de Grammont

O
julgamento seguido de condenação pela morte de Eliane Grammont ficou
como um marco decisivo no combate á violência contra a Mulher
empreendida pelo movimento feminista nacional. No ano seguinte, em 1985,
a cidade de São Paulo inaugurou a primeira Delegacia de Defesa da
Mulher do Brasil. Em 09 de março de 1990, Luiza Erundina – primeira
mulher eleita prefeita da maior capital em densidade populacional do
país, São Paulo – atendendo a uma solicitação do Movimento Feminista
fundou uma casa de amparo às mulheres vítimas de seus companheiros,
dando a esse Centro de Referência o primeiro serviço público municipal
do país nesse tipo de atendimento integral às mulheres nos casos de
violência doméstica e sexual o nome de Eliane de Grammont. Lá é
oferecido atendimento psicológico e de assistência social, como parte de
uma política de prevenção e enfrentamento da violência contra as
mulheres. Além de articular com outros serviços a construção de uma rede
de atendimento às usuárias. Desta forma, tornou-se um modelo para
implantação de serviços destes tipos em outras prefeituras, auxiliando
na criação de centros semelhantes.
Recebi
um comentário de Adriana de Grammont solicitando que fosse feita a
devida correção neste texto . Agradeço a gentileza da mensagem e
trancrevo abaixo, o texto original, que diz aonde eu errei, já enviando
de imediato minhas desculpas pela falha na informação:
"Somente
para retificar que a autoria da música "Amélia de você" é de Elena de
Grammont (mãe da Eliane) e não irmã como estão informando no texto.
Agradeceria se vcs fizessem esta correção. Parabéns pela matéria!!Um
abraço,Adriana de Grammont 10 de Julho de 2009 21:18"