sexta-feira, fevereiro 08, 2008

LETRA "AI, QUE SAUDADES DA AMÉLIA" e "EMÍLIA"


NINGUÉM MERECE SER AMÉLIA MUITO MENOS EMÍLIA

Ai que saudade da Amélia – 1941
Ataulfo Alves / Mário Lago

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê você quer
Ai meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Ãs vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não Ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: - meu filho o que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade.


Emília – 1942
Wilson Batista /Haroldo Lobo

Quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar
Que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar
Só existe uma
E sem ela eu não vivo em paz
Emília, Emília, Emília
Não posso mais

Ninguém sabe igual a ela preparar o meu café
Não desfazendo das outras, Emília é mulher
Papai do céu é quem sabe a falta que ela me faz
Emília, Emília, Emília
Não posso mais.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

ARTIGO

Será que Amélia ainda é “aquilo”?



Amélia faz parte da memória social brasileira como exemplo maior de submissão da mulher. Tudo por conta do samba homônimo “Ai, que saudade da Amélia” lançado no carnaval de 1941 descrevendo-a como a mulher de verdade. A letra atingiu em cheio o imaginário coletivo a tal ponto que virou verbete no Aurélio como : “mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem”.
Apesar dessa pecha, virou sucesso estrondoso por várias décadas. As ouvintes mulheres custaram a se contrapor ao conteúdo misógino da mensagem onde a personagem em questão chega a ser vítima de uma anorexia impositiva: “às vezes passava fome ao meu lado / e achava bonito não ter o que comer”. Pasmem, mas seus maiores predicados resumiam-se a nada querer, nem tampouco "tinha a menor vaidade". Assim mesmo, era uníssona entre homens e mulheres a opinião sobre a Amélia: “Aquilo sim é que era mulher”.
Mas ela não era a única. Havia a Emília, também campeã nas paradas de sucesso surgida no mesmo ano e com o mesmo feitio de sujeição total e absoluta ao parceiro de cama e mesa. Só que acompanhava entre outras característica um adicional utilitário: “quero uma mulher / que saiba saiba lavar e cozinhar(...) além de outra vantagem – a função de despertador: “que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar”(...). Sem falar na seguinte prerrogativa: nas tarefas domésticas era imbatível: “ninguém sabe igual a ela / preparar o meu café / não desfazendo das outras / Emília é mulher
(...) Na trilha dessas mulheres seguiram outras e outras até chegar ao século 21. Resta, portanto, saber quantas mulheres por ai continuam a levar hoje em dia uma vida de Amélia?