sábado, novembro 25, 2017

Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres

25 de Novembro de 2017 (Sábado)Resultado de imagem para foto imagem dia internacional para eliminação da violência contra a mulher
Dia Internacional para a não-Violência Contra as Mulheres é comemorado anualmente em 25 de novembro.
A data tem o objetivo de alertar a sociedade sobre os casos de violência e maus tratos contra as mulheres. A violência física, psicológica e o assédio sexual são alguns exemplos desses maus tratos.
De acordo com as estatísticas, uma em cada três mulheres sofre de violência doméstica. A violência contra a mulher é uma questão social e de saúde pública, não distingue cor, classe econômica ou social, está presente em todo o mundo.

Origem da data

A Organização das Nações Unidas (ONU), desde 1999, reconhece o dia 25 de novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
A data surgiu em decorrência do Dia Latino-americano de Não Violência Contra a Mulher, que foi criada durante o Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho de 1981, realizado em Bogotá, Colômbia, comemorado em 25 de novembro, em homenagem às irmãs Pátria, Maria Tereza e Minerva Maribal, que foram violentamente torturadas e assassinadas nesta mesma data, em 1960, a mando do ditador da República Dominicana Rafael Trujillo.
As irmãs eram conhecidas por "Las Mariposas" e lutavam por soluções para os diversos problemas sociais de seu país, a República Dominicana.

CINEMA SOVIÉTICO DE MULHERES


Embora desde o começo tenham sido atuantes no cinema soviético, as diretoras raramente aparecem na história do cinema da região ou em eventos dedicados ao tema. 
Nesta mostra, a equipe organizadora irá apresentar parte da diversidade do cinema soviético de mulheres

Programação
Mostra Cinema Soviético de Mulheres

28 a 30 de novembro de 2017


Auditório 2 da Faculdade de Direito (R. Pres. Pedreira, 62 - Ingá, Niterói)

28/11

15:00 – abertura da Mostra Cinema Soviético de Mulheres

16:00 – mesa-debate “As mulheres na União Soviética”
18:30 – sessão-debate do filme “Queda da Dinastia dos Romanov” (Esfir Shub, URSS, 1927)
29/11
15:00 – sessão-debate do filme “A Aldeia do Pecado” (Olga Preobrazhenskaya, URSS, 1927)
18:30 – sessão-debate do filme “A Epopeia dos Anos de Fogo” (Yuliya Solntseva, URSS, 1961)
30/11
14:00 – sessão-debate do filme “Três Álamos na Rua Plyushcikha”(Tatyana Lioznova, URSS, 1968)
18:00 – sessão-debate do filme “Síndrome Astênica” (Kira Moratova, URSS, 1990)

A Mostra Cinema Soviético de Mulheres começa dia 28/12. Após a abertura, teremos às 16 horas o debate "As mulheres na União Soviética", com Carolina Vazquez, Liziane Correia e Thaiz Senna!

Também no dia 28/11, às 18:30hs, nossa primeira sessão-debate: "Queda da Dinastia dos Romanov” (1927), da grande diretora Esfir Shub.
Usando material de arquivo, Shub monta uma cronologia da Rússia entre 1913 e 1917. Filme feito para o aniversário de 10 anos da Revolução.
Após a sessão, debate com Nina Tedesco e Vanessa Teixeira de Oliveira. 


No dia 29/11, a Mostra Cinema Soviético de Mulheres começa às 15 horas com “A Aldeia do Pecado” (1927), de Olga Preobrazhenskaya - a primeira diretora russa!
Um melodrama sobre os destinos de duas mulheres: Anna, a tradicional esposa, e Vasilia, um exemplo da nova mulher pós-Revolução.
Após a sessão, debate com Taiani Mendes e Thaiz Senna de Oliveira. 



Ainda no dia 29/11, a Mostra Cinema Soviético de Mulheres irá exibir, às 18:30 horas, “A Epopeia dos Anos de Fogo” (1961), filme que tornou Yuliya Solntseva a primeira mulher a ganhar o prêmio de Melhor Direção em Cannes.
No início do verão de 1941, as tropas alemãs entram na Rússia, causando destruição humana e material. Ivan Orlyukov, um jovem russo, toma as armas e levanta-se contra o invasor. Ele não está sozinho.

Após a sessão, debate com Fran Rebelatto e Juliana Costa. Conheça as debatedoras! 
QUER MAIS INFORMAÇÕES?  VEJA NO FACEBOOK OU NO MESSENGER:
@cinemasovieticodemulheres

sexta-feira, novembro 24, 2017

PROTAGONISMO DA MULHER NA HISTÓRIA MUNDIAL - Livros de Ficção Científica Escrito Por Mulheres

Octavia Butler foi a primeira autora negra de ficção científica a ser reconhecida mundialmente.
Escreveu vários livros feminista, tendo com o tema, geralmente, racismo e preconceito

Pare o que você está fazendo agora e pense em três escritores de ficção científica. 
Pensou? Pois bem, Isaac Asimov, Philip K. Dick e George Orwell provavelmente aparecem nesse breve exercício de memória. Isso traz a tona uma informação meio óbvia, mas que merece ser ressaltada: a literatura de ficção científica é um campo ainda dominado por homens. Em sua maioria, homens brancos com uma visão restrita de mundo.
Isso não significa que as mulheres estão fora desse área de atuação.
Pelo contrário, a história da literatura de ficção científica e de seus subgêneros (cyberpunk, space opera, distopia, viagem no tempo e invasão alienígena) é povoada por grandes escritoras, mulheres que pensaram outras realidades sob cenários surpreendentes e, por meio de suas narrativas, desencadearam reflexões sobre questões sociais como feminismo, política e religião.
Aqui estão 7 escritoras que se aventuraram com sucesso pela ficção científica. Com obras premiadas e carreiras consagradas, elas mostram que esse gênero literário pode ser ainda mais rico e diverso do que você imaginava.
Octavia E. Butler
Filha de uma empregada doméstica e um engraxate, a norte-americana Octavia Butler  foi a primeira autora negra de ficção científica a ser reconhecida mundialmente. Ela escreveu contos, ensaios e 15 livros ao longo de sua carreira. Por eles, recebeu mais 20 indicações e diversos prêmios, incluindo Nebula e Hugo - duas das mais prestigiadas honrarias de ficção científica e fantasia. Seu romance mais emblemático, Kindred, acaba de ser publicado no Brasil pela editora Morro Branco depois de 40 anos do lançamento original. A trama é sobre Dana, uma mulher negra que nos anos 70 vive sucessivos episódios de volta no tempo, para os EUA dos início do século 19. Questões de raça e gênero permeiam o livro que já vendeu mais de meio milhão de cópias e que tornou Octavia conhecida como a "Grande Dama da Ficção Científca".



Charlotte Perkins Gilman

Charlotte Perkins Gilman (1860-1935) é uma escritora com obra

 consagrada, cujos livros trazem o feminismo como espinha dorsal. A obra mais conhecida norte-americana é O Papel de Parede Amarelo, título que se tornou leitura obrigatória em diversas escolas de Ensino Médio nos EUA. Mas aqui, vale ressaltar outro grande título de seu currículo: Herland - A Terra das Mulheres, lançado em 1915 no periódico The Forerunner, publicada Brasil pela editora Francisco Alves e encontrada hoje apenas em sebos. Considerado uma "distopia feminista", o livro conta a história de três rapazes americanos que fazem uma expedição a um país desconhecido (Herland, do título) composto apenas por mulheres e meninas há mais de 2000 anos. Com a imagem cristalizada do ideal de mulher que conheciam, eles se surpreendem com o que encontram nesse novo lugar. Nesse lugar, não há mais guerras e violência e a reprodução assexuada é o que regra as vidas.

 Ayn Rand


Política, filosofia e o conceito de individualismo se entrelaçam na obra de Ayn Rand. Escritora russa de origem judaica, Ayn fugiu da Revolução Comunista de 1917 e se instalou nos Estados Unidos em 1926 onde construiu uma carreira de sucesso como escritora, dramaturga e roteirista. Uma de suas obras mais célebres é A Nascente, que conta a história de Howard Roark, um jovem que se recusa a seguir os padrões de uma sociedade que não compreende seu modo independente de pensar e agir. Roark não abre mão de seus valores e longe da faculdade, acaba pagando um preço alto que envolve desemprego, pobreza e humilhação pública. A trama traz a tona uma ideia que a autora defendeu durante toda a sua trajetória: a de que o homem nasce livre e pode fazer o que desejar.

 Mary Shelley


Nascida em Londres, Mary Shelley (1797-1851) foi pioneira na ficção científica antes mesmo da consolidação do gênero literário com esse nome. Sua obra mais conhecida é Frankenstein, publicada em 1818 e adaptada incontáveis vezes para o teatro, cinema e televisão. O livro conta a história de Victor Frankenstein, um jovem estudante de ciências naturais que, mexendo com tecidos mortos, descobre a fórmula da criação de um ser consciente. Essa descoberta dá origem à Criatura. Victor rejeita o ser que criou e recebe como retribuição o ódio da Criatura - que passa a aterrorizar todos os seus familiares. Frankenstein é a obra-prima de Mary, mas não o único título de sua carreira. Ela escreveu outros romances, livros de memórias e também colaborou com contos e ensaios para publicações como Keepsake Westminster Review.

Suzanne Collins


Nascida em 1962 em Connecticut, nos EUA, a escrita americana Suzanne Collins trabalhou como roteirista de diversos programa infantis antes de escrever Jogos Vorazes, título infanto-juvenil que se tornou fenômeno em todo o mundo no final dos anos 2000. A trama do livro se passa em um futuro distópico onde adolescentes são forçados a participar de um jogo de vida ou morte transmitido pela televisão. A ideia para livro surgiu em um dia que Suzanne estava em frente à TV. Em um canal, ela viu um grupo de competidores de um reality show. No outro, imagens gravadas na Guerra do Iraque. A combinação dos dois temas recebeu ainda influência do mito de Teseu e o Minotauro. O resultado? Sucesso. Como se sabe, o título foi o primeiro de uma trilogia, adaptada posteriormente - e também com sucesso - para o cinema.

Ursula K. Le Guin



No planeta Gethen, todos os habitantes são "ambissexuais". Isso signifca que são todos ao mesmo tempo homens e mulheres. Não há gênero em Gethen e, consequentemente, não há também machismo. A manifestação biológica ocorre somente nos períodos de procriação, quando os todos podem escolher o sexo que vão assumir. Diferente de todos os habitantes, o protagonista Genly tem gênero definido e pode acasalar a qualquer momento. No contexto de Gethen, isso faz dele uma aberração. Em linhas gerais, é essa trama de A Mão Esquerda da Escuridão, publicado em 1969 e considerado a obra-prima da escritora Ursula K. Le Guin. Hoje com 87 anos, a escritora foi a primeira mulher a conquistar os maiores prêmios da ficção científica (Hugo e Nebula). A obra vasta da norte americana reúne 21 romances, 12 livros de poesia, 13 títulos infantis, além de coletâneas de contos, críticas e roteiros.

 Margareth Atwood



Em um futuro próximo, os EUA vivem sob uma ditadura militar, uma teocracia. Os direitos das mulheres são retirados e elas são divididas entre férteis e inférteis. As férteis são mantidas na casa dos comandantes do governo, onde uma vez por mês são estupradas por eles. Essas mulheres agora precisam trazer novas vidas ao país, que passou a se chamar "Gilead". Temas atuais como a opressão sofrida pelas mulheres e o fundamentalismo cristão na política se combinam em O Conto de Aia, romance distópico de Margareth Atwood, lançado em 1985, que voltou aos holofotes neste ano após a premiada adaptação para a TV pelo serviço de streaming Hulu. Considerada um dos principais nomes da literatura contemporânea em língua inglesa, a canadense tem títulos reverenciados não só dentro da ficção científica. Margareth coleciona mais 50 livros no currículo, entre reunião de contos, poesias, títulos infantis e de não-ficção.
Fonte texto : HuffPost Brasil  / Fotos: MONTAGEM/GETTY/DIVULGAÇÃO
Outra Fonte: www.monicaaguiarsouza.blogspot.com.br

segunda-feira, novembro 20, 2017

Dia da Consciência Negra



Livro Bruxas e Parteiras



"Bruxas, Parteiras e Enfermeiras" é um texto clássico de 1973, escrito pelas antropólogas Barbara Ehrenreich e Deirdre English, que contextualiza e conta a história da introdução da medicalização da saúde e do controle dos corpos das mulheres, através da retirada dos cuidados das mulheres feita por curandeiras, bruxas e parteiras.

Texto foi traduzido ao português, pela Bruxaria Distro, em parceria com a Editora Subta. Capa porSarah Roque.

"Este folheto abrirá os seus olhos. Barbara Ehrenrich e Deirdre English mostram como, por razões de política de classe, supressão de mulheres e ganância nua, os homens ricos desacreditaram, perseguiram e mataram as sábias curadoras, permitindo serem os únicos praticantes de sua medicina científica. A informação aqui apresentada oferece uma perspectiva totalmente nova para a história médica e aponta algumas das causas subjacentes à nossa bagunça médica atual ".

sexta-feira, novembro 17, 2017

Protagonismo das Mulheres na História Mundial


Revolução Russa: Da subversão ao silêncio

* Por Lilián Celiberti
As mulheres foram protagonistas em todas as revoluções. Entretanto, embora seus corpos tenham sido perseguidos, torturados, encarcerados igualmente aos dos homens, seus olhares, suas lutas e opiniões, muitas vezes dissidentes, raramente ficaram registrados na história. Resgatar a memória dessas subversões e resistências foi uma tarefa tenaz das feministas desde o começo do movimento.
Evidentemente não há quem não associe a Revolução de Outubro aos homens de Lenin, Léon Trotsky ou Iósif Stalin, e talvez na memória coletiva só se registre o nome de Alexandra Kollontái. Muitas outras mulheres organizaram ações significativas, como as trabalhadoras que impulsionaram uma greve em fevereiro de 1917, que foi a antessala da greve geral que abriu caminho para a Revolução Russa, ou Nadezhda Krupskaia e Inessa Armand, editoras do jornal Rabotnitsa, censurado em junho de 1914 pelo governo e reeditado em 1917, às vésperas da revolução. Krupskaia exilou-se junto com Lenin, seu marido, e escreveu seu primeiro livro: A mulher trabalhadora.

Devido à guerra, as mulheres se incorporaram massivamente ao mercado de trabalho para substituir os homens. Calcula-se que, em Petrogrado, chegavam a 47% da força de trabalho. Por isso, de fevereiro a outubro, a participação das mulheres na revolução foi elevada. Em meados de abril, milhares de mulheres se mobilizaram em Petrogrado para exigir o direito ao voto e obtiveram a promessa do governo provisório de Alexander Kerensky de permitir o voto para todas as mulheres maiores de 20 anos na futura Assembleia Constituinte.
Em 1917, o Rabotnitsa dizia: “Se uma mulher é capaz de subir em um andaime e lutar nas barricadas, então é capaz de ser uma mulher igual na família operária e nas organizações operárias”. A luta contra o patriarcado estava, para elas, no mesmo plano que o enfrentamento do capitalismo, embora não se expressasse com essas palavras.
É interessante ver como, ao longo da história, a experiência social das mulheres ultrapassa as dimensões e as categorias da política e incorpora a vida como um todo no debate público. Basta ler os artigos de Kollontái sobre o amor livre e o questionamento da família burguesa para ver a dimensão integral que a revolução propunha, mesmo em uma Rússia campesina, analfabeta e faminta.
As jornadas de trabalho eram de 10 ou 12 horas, significando para as mulheres o abandono real das tarefas de cuidado. Não é de estranhar, portanto, que 40.000 lavadeiras protagonizaram em maio a primeira grande greve contra o governo provisório, reivindicando um aumento de salários, as oito horas de trabalho e melhores condições de trabalho. Nesse clima de organização e resistência, a voz rebelde de Kollontái apoiou a greve, mas seu pensamento foi além das reivindicações de direitos, para analisar as causas da opressão e avançar em propostas emancipatórias e libertárias.

A Revolução Russa significou uma conquista para as mulheres sem precedentes na história: o direito ao voto, ao aborto livre e gratuito, ao divórcio; a legitimidade dos filhos nascidos fora do matrimônio, a despenalização da prostituição e a homossexualidade.

Entendia-se como princípio “arrancar as mulheres da escravidão doméstica”, mediante a socialização do trabalho do lar e o cuidado dos filhos com creches e refeitórios públicos. Os primeiros anos da revolução foram um período de intensos debates e experimentação. Um dos eixos de debate mais inovadores e provocadores foi o ocorrido na família. Como destaca a historiadora Wendy Goldman, em A mulher, o Estado e a Revolução, o debate estava orientado por quatro princípios: 1) a união ou amor livre; 2) a necessária independência econômica de homens e mulheres para garantir as opções livres; 3) a socialização do trabalho doméstico, com a criação de lavanderias, creches, refeitórios, para que o cuidado das pessoas necessitadas fosse uma tarefa social coletiva, e não responsabilidade das mulheres; 4) a certeza de que, dadas essas condições, a família como tal, como unidade econômica e afetiva, tenderia a desaparecer.

‘Mulher, Estado e Revolução’ analisa o papel das mulheres na Revolução Russa de 1917 e as lições deixadas por elas
Goldman ressalta: “A partir de uma perspectiva comparativa, o Código de 1918 se adiantava notavelmente em sua época. Não teria sido promulgada até o momento nenhuma legislação similar quanto à igualdade de gênero, ao divórcio, à legitimidade e à propriedade, nem na América nem na Europa. Contudo, apesar das inovações radicais do Código, os juristas destacaram rapidamente que essa legislação não é socialista, mas legislação para a era transicional”.
Em setembro de 1919, Lenin escrevia no Pravda: “A situação da mulher ainda continua sendo árdua devido a suas tarefas domésticas. Para conseguir a total emancipação da mulher e sua igualdade real e efetiva com o homem, é necessário que a economia nacional seja socializada e que a mulher participe no trabalho geral de produção. Só assim a mulher ocupará o mesmo lugar que o homem”.
Dez anos de experimentação revolucionária na produção, nas relações sociais e familiares, na sociedade, na economia e na cama, diriam as feministas do século XXI, é muito pouco para dimensionar as mudanças a que essa geração de mulheres e homens revolucionários se propôs na Revolução de Outubro.
Antes do décimo aniversário, o regime de Stalin reintroduziu o matrimônio civil como a única união legal reconhecido pelo Estado. Mais tarde, também suprimiu a seção feminina do Comitê Central do Partido, penalizou a homossexualidade e criminalizou a prostituição. Para Goldman, “a proibição do aborto em junho de 1936 foi acompanhada de uma campanha para desacreditar e destruir as ideias libertárias que tinham dado forma à política social ao longo da década de 1920”, “a doutrina da ‘extinção’, que em um momento tinha sido central para a compreensão socialista da família, do direito e do Estado, foi repudiada”.
Mais família, mais Estado, menos revolução. A esquerda política no mundo se afiliou a essa visão conservadora e limitante das relações sociais, e deixou fora do debate emancipador as relações de poder cotidianas entre homens e mulheres até meados dos anos 60, com o ressurgimento das lutas feministas. Aquela vanguarda subversiva foi, portanto, silenciada, deslocada e derrotada.
Quase um milhão de mulheres fizeram parte do Exército Vermelho; suas vozes são resgatadas do silêncio por Svetlana Alexiévichc em A guerra não tem rosto de mulher: “A guerra feminina tem suas cores, seus cheiros, sua iluminação e seu espaço. Tem suas próprias palavras. Nessa guerra não há heróis nem façanhas incríveis, apenas há seres humanos envolvidos em uma tarefa desumana. Nessa guerra, não são apenas as pessoas que sofrem, mas também a terra, os pássaros, as árvores. Todos os que habitam este planeta junto conosco. E sofrem em silêncio, o que é ainda mais terrível.” Os testemunhos que ela recolhe falam dessa guerra contra a vida vivida pelas mulheres, na qual só resta o silêncio, porque o que têm para dizer expressa uma dimensão da política que não encontra espaço para a escuta, o diálogo ou a enunciação. É o corpo agredido, é a violência, é o medo, é uma compreensão de que o que está em jogo é a vida toda, que necessita de muitos cuidados para se sustentar, matizes, cheiros e cores que não entram nos debates, nem nos sonhos, nem na imaginação das esquerdas que só pensam em estratégias de poder.
Mudar a vida e transitar por esses quatro princípios bolcheviques se revelou mais complexo que “tomar o poder”, precisamente porque é no campo das práticas cotidianas subversivas onde cresce a emancipação.
*Lilian Celiberti é coordinadora da organização feminista Cotidiano Mujer e participa da Articulación Feminista Marcosur (AFM).

quinta-feira, novembro 16, 2017

Lou Andreas Salomé - Uma mulher que "arretada"! Avant-garde! à frente do seu tempo!

Escritora, Psicanalista e Intelectual do século XX

Da esquerda para direita: Lou Andreas Salomé, Paul Rée e Friedrich Nietzsche .


quarta-feira, novembro 08, 2017

Ideologia de Gênero



05/11/2017  Fonte: http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br

Ideologia de gênero: rastros e significados

POR #AGORAÉQUESÃOELAS

Por Sonia Corrêa*
A cruzada contra a “ideologia de gênero” que volta suas baterias contra a presença de Judith Butler no Brasil não é uma novidade nem tampouco um fenômeno exclusivamente brasileiro.
Tal como analisado por inúmeras autoras, inclusive a própria Butler em Desfazendo Gênero, essa cruzada remonta aos debates nas Nações Unidas dos anos 1990, quando por primeira vez, na Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento (1994), o conceito de gênero foi adotado num documento intergovernamental. Seis meses mais tarde, nos debates preparatórios para a IV Conferência Mundial das Mulheres de Pequim o termo gênero foi atacado pela direita católica norte-americana, que nele reconheceu um forte potencial desestabilizador da dita ordem natural dos sexos.
Inaugura-se aí uma vasta produção e disseminação de argumentos contra o conceito de gênero, descrito nesses textos como instrumento de uma conspiração feminista internacional. Uma peça importante desse acervo é o texto Agenda de Gênero, publicado no Brasil pela editora Canção Nova, logo após a visita papal de 2007. A partir dos anos 2000, essa produção se daria sob a égide do próprio Vaticano que em 2003 publicou Lexicon dos Termos sobre a Família de 2003 e no ano seguinte a Carta aos Bispos sobre a Colaboração do Homem e da Mulher no Mundo de 2004 – que já na sua primeira página critica a polimorfia sexual embutida nas proposições de igualdade entre homens e mulheres.
As campanhas anti-gênero, ao contrário do que proclamam seus arautos, não se gestaram nas bases das sociedades, mas sim nas altas esferas da política internacional e de elaboração teológica. Elas constituem um fenômeno transnacional que, apesar do vínculo de origem com a igreja católica, tem hoje a adesão de muitos outros atores religiosos: evangélicos, muçulmanos, budistas e, no Brasil, espíritas. Isso não significa, porém, que todas as pessoas religiosas comunguem com essa visão, nem tampouco que ela seja exclusivamente religiosa. Esse mesmo discurso também tem sido propagado por forças seculares neoliberais, conservadoras, ‘científicas’ e até mesmo por gente do campo de esquerda.
Cabe lembrar, por exemplo, que, na América Latina, um sinal forte de que essas campanhas  iriam se intensificar se deu em 2013 quando o ex presidente do Equador Rafael Correa dedicou-se, num de sue programas semanais de televisão, a abominar a “ideologia de gênero que destrói a família”. Dois anos mais tarde os legislativos de oito estados brasileiros já haviam votado pela eliminação do termo gênero dos planos estaduais de educação e decisões similares haviam sido aprovadas em vários municípios. Em seguida, a bancada religiosa dogmática da Câmara Federal excluiu o termo gênero do decreto administrativo presidencial que restringia o status da Secretaria de Políticas para Mulheres. Um ano se passou e, em 2 outubro de 2016, o referendum pelo acordo de paz na Colômbia foi derrotado por uma margem nada ampla de votos. Argumentos anti-gênero foram abertamente usados na campanha contra o acordo, especialmente por pastores evangélicos segundo os quais a “ideologia de gênero” teria vínculos com Cuba – onde o acordo foi firmado – ou mais precisamente à tradição religiosa afro-cubana, descrita por eles como culto ao demônio. No começo de 2017, campanhas anti-gênero foram para o ringue contra proposições em relação a educação sexual, direitos das pessoas trans, noções de famílias diversas e tentativas de positivar o aborto legal e seguro na revisão da Constituição do Distrito Federal do México. Em seguida um ónibus anti-gênero começou a circular no país.
Dois meses depois, o veículo anti-gênero já circulava no Chile, pragmaticamente pouco antes da votação da reforma legal do aborto, encerrada em agosto. A reforma deixou para trás a proibição absoluta da interrupção da gravidez promulgada durante o regime Pinochet. Os defensores da “Ideologia de gênero” espernearam. Até mesmo no Uruguai, país reconhecido pela cultura política secular, essas campanhas estão ganhando vulto e atacando o programa nacional de educação sexual. E, há duas semanas atrás, em Quito uma manifestação pela defesa da família atacou diretamente o projeto de lei contra violência de gênero em debate no congresso.
Essas cruzadas também têm proliferado na Europaonde os embates têm sido mais flagrantes nos países de forte tradição católica, como é o caso da Espanha – lugar em que foi inventado o ônibus anti-gênero – ou Itália. Quando votou-se o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a França laica e republicana também foi tomada por manifestações anti-gênero. Discursos semelhantes têm circulado na Alemanha e Áustria e ainda com mais intensidade Polônia e Hungria, Eslovênia e Croácia. Grupos anti-gênero também atuam na Austrália, onde influenciaram a convocação do referendo postal sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na África subsaariana, esses ataques enfatiza os traços colonialistas e não africanos do conceito de gênero.
A moldura semântica “ideologia de gênero” é um significante vazio e adaptável.
Cabem nela o direito ao aborto, as homossexualidades, os corpos trans, as famílias diversas, educação em gênero e sexualidade, transmissão do HIV, trabalho sexual, uma cesta básica que pode ser facilmente ajustada às condições de cada contexto. Seus discursos constroem analogias insólitas entre feminismo, teoria queer e comunismo, uma estratégia que tem ecos em contextos onde esse espectro continua ativo, como no Brasil.
Sobretudo, mobilizam lógicas e imaginários simplistas, esquemáticos e constituem inimigos voláteis – aqui as feministas, ali os gays, acolá, os artistas, mais adiante os acadêmicos, alhures os corpos trans – alimentando pânicos morais que distraem as sociedades de problemas estruturais que deveriam estar sendo debatidos, como as  crescentes desigualdades de gênero, mas também de classe, raça e etnia.
Embora usem argumentos teológicos, as campanhas anti-gênero falam a língua do Animal Planet. Seus porta-vozes estão, de fato, aderindo a Darwin quando dizem que autonomia reprodutiva, as muitas formas de família e a plasticidade sexual não se opõe apenas à lei divina mas vão contra as leis da natureza. Acompanhando a sagaz reflexão de Eric Fassin cabe perguntar, contudo, se essa ordem natural que buscam proteger não é, de fato, frágil. Tão frágil que se faz necessário um brutal investimento para preservá-la.
Assim é, porque, no mundo da vida, o que está dentro da cesta “anti-gênero” são as  experiências pessoais, grupais e sociais cada vez mais concebidas, percebidas e vividas como expressões da plasticidade e pluralidade humanas. Os discursos raivosos contra a visita de Butler mobilizam argumentos em defesa da natureza como estratégia para conter essas transformaçõesAtacam feminismos e a política sexual de modo mais amplo para preservar ou restaurar ordens políticas, culturais e sociais avessas à pluralidade, à deliberação  democrática, à hospitalidade e aos horizontes de superação das desigualdades e da precariedade.
*Sonia Corrêa é pesquisadora associada da ABIA e co-coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política. Professora visitante do Deptartment of Gender Studies da London School of Economics (LSE). Uma das feministas mais respeitadas do Brasil, pioneira em muitos dos debates que este blog desenvolve em seus quase dois anos de existência.

Aborto até o terceiro mês não é crime, decide turma do Supremo

Interromper gestação até terceiro mês não é crime, decidiu em 29/1/2017  a primeira Turma do STF em Habeas Corpus - voto-vista proferido pelo ministro Luis Roberto Barroso, pois para Barroso, a criminalização do aborto traz mais prejuízos do que benefícios. E ferem diversos direitos fundamentais, entre eles, os sexuais e reprodutivos da mulher. "Que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada.” 
Para impedir gestações indesejadas, em vez da criminalização, Barroso destacou que existem inúmeros outros meios, como educação sexual, distribuição de contraceptivos e amparo à mulher que deseja ter o filho, mas não têm como sustentá-lo. “Praticamente nenhum país democrático e desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante o primeiro trimestre como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.”