segunda-feira, setembro 30, 2013

Basta de Violência Contra a Mulher




Cresceu o índice de violência contra a mulher em Pernambuco.
De janeiro até agosto de 2013, foram 167 mulheres assassinadas;
Cerca de 9000 foram ameaçadas
582 foram estupradas;
Mais de 6000 foram agredidas.
Não precisamos esperar que chegue aquele dia do calendário de luta contra a violência para denunciarmos.
O número 180 funciona o ano todo.
Claro que tem muita coisa pra se consertar. É evidente que o Estado tem falhado, e muito, em vários aspectos, inclusive com a violência contra a mulher. Mas a gente deve seguir lutando contra tal covardia.
Se a gente não lutar, o Estado fica cada vez mais omisso.
Se liga aí!
Atendimento à mulher: 180 (Qualquer parte do país)

Pelo estado:
CARUARU (81)3719-9106
PETROLINA – (87)3866-6625
SURUBIM - (81)36241987
GARANHUNS – (87)3761-8507
ÁGUA PRETA – (81)3681-1051
CABO DE SANTO AGOSTINHO – (81)3524-9072
CARNAUBEIRA DA PENHA – (87)3877-8156
JABOATÃO – (81)3361-2712
AGRESTINA – (81)3744-1103
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – (81)3523-2997
SERTÂNIA – (87)38413086
SÃO LOURENÇO DA MATA – (81)3518-3713
PASSIRA – (81)3651-1156
JAQUEIRA – (81)3689-1265
ITAMARACÁ – (81)3544-1330
TRACUNHAÉM – (81)3646-1122
CUPIRA- (81)9208-5948
AFRÂNIO – (87)3868-1054
LAGOA DO CARRO – (81)3621-8156
PALMARES – (81)9956-2262
RIBEIRÃO – (81)3671-1822
BELO JARDIM – (81)3726-8716
JOÃO ALFREDO – (81)3648-1230
PAUDALHO – (81)3636-1156
BODOCÓ – (87)3878-1162
SALGUEIRO – (87)3871-7070
GOIANA – (81)3626-3283
TAMANDARÉ – (81)3676-1900
TRINDADE – (87)3870-1566
CATENDE – (81)3673-1402
GRANITO – (87)3880-1163
LAGOA DE ITAENGA – (81)3653-1997
CORTÊS – (81)3687-1151
IBIRAJUBA – (87)3794-1178
SAIRÉ – (81)3748-1130
BUÍQUE – (87)3855-2908
MOREILÂNDIA – (87)3891-1162


MAIS INFORMAÇÕES / OUTRAS CIDADES - Ouvidoria da Mulher de Pernambuco: 3183-2963


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Sempre fico estupefata quando leio estatísticas sobre o “Femicídio” aqui no nosso país. E agora, mais ainda, em saber que depois de criada uma lei como a “Maria da Penha”, na intenção de frear a violência contra a mulher, principalmente, aquela cometida intramuros, são esses os assassinatos que mais larguearam as estatísticas de violência contra  a mulher mais atuais.
Aí, me veio imediatamente à lembrança, algumas letras da música popular que banalizam tamanho crime, ao serem cantadas corriqueiramente nas rádios e outros meios de comunicação, ou mesmo, em qualquer tipo de festividade.
Parece que entram por um ouvido e saem pelo outro de quem as ouve, sem deixar rastro, ou seja: ninguém presta atenção ao significado do conteúdo cantado.
Para melhor elucidar o que estou querendo dizer, vou destrinchar ligeiramente os versos de um samba que é pra lá de conhecido, intitulado: “Na Subida do Morro” o qual, descreve na primeira pessoa do singular a azucrinação de um tipo “malandro”, habitante de um morro, quando, ao voltar para casa tem conhecimento de que a sua companheira fora agredida por outro homem, morador da mesma comunidade. E, conforme veremos, vai descrevendo na canção em tela: “Na subida do morro me contaram / Que você bateu na “minha nêga”/ Isso não é direito”(...)
Até aí parece que tá tudo nos conformes, a letra que reproduz uma cena comum do cotidiano onde é natural que o homem ao ter conhecimento do fato sucedido com a mulher, com quem mora junto, numa relação conjugal, faça o narrador sentir-se, com toda razão, ultrajado provocando uma reação no sujeito da narrativa fazendo com que queira tomar uma satisfação e ao que se poderia notar e seria natural de se prever –  só que nesse verso inicial já percebe-se o primeiro sinal da situação da referida mulher pelo pronome possessivo “minha”  usado, o que ocasionará uma reviravolta de chofre,  me deixando pasma sobre  o motivo real da indignação como se pode constatar: “bater numa mulher que não é “sua”,  – olha aí de novo o pronome possessivo para definir o motivo detonador  da  desafronta contra o agressor da bordoada pesada:   “A nêga quase que virou presunto / Eu não gostei daquele assunto  / Hoje venho resolvido / Vou lhe mandar para a cidade de pé junto / Vou lhe tornar em um defunto”(...)
Mas essa história tem, ainda, bastante relato chocante dai pra frente. Basta prestarmos atenção às justificativas para o tamanho da vingança que será cometida pelo macho ultrajado, que nada tem a ver com a surra que a mulher levou e sim os brios feridos do tal malandro quando explica os seus motivos para tomar satisfação de homem para homem: Você mesmo sabe /Que eu já fui um malandro malvado / Somente estou regenerado / Cheio de malícia / Dei trabalho à polícia /Pra cachorro / Dei até no dono do morro(...) E aí é exposto o verdadeiro motivo da explosão de fúria que levou o malandro pagar com a mesma moeda a afronta “por ele” recebida: “Mas nunca abusei / De uma mulher / Que fosse de um amigo / Agora me zanguei consigo /
Hoje venho animado A lhe deixar todo cortado
Vou dar-lhe um castigo / Meto-lhe o aço no abdômen / E tiro fora o seu umbigo(...)
E assim ele vai continuando a mostrar do que é capaz de fazer, para revidar, um homem quando se metem com a mulher “dele”. Sente-se, extremamente, ferido com isso nos seus brios e na sua hombridade machista sem levar em conta a situação desesperadora da mulher, atacada fisicamente, pelo outro que, apenas, “não era seu dono”, pois tudo leva a crer que ela já passava, constantemente, por essa mesma situação de agressão – produzida pelo narrador – no ambiente doméstico:
“Aí meti-lhe o aço, quando ele vinha caindo disse / – 'Morengueira, você me feriu" / Eu então disse-lhe: / – 'É claro, “você me desrespeitou, mexeu com a minha nega' ”. / Você sabe que em casa de vagabundo malandro não pede emprego. / Como é que você vem com xavecada, está armado? / Eu quero é ver gordura que a banha está cara! / Aí meti a mão lá na duana na peixeira / É porque eu sou de Pernambuco, cidade pequena, porém decente, / peguei o Vargolino pelo abdome, desci pelo duodeno, vesícula biliar e fiz-lhe uma tubagem; /  ele caiu, bum!, todo ensangüentado. / E as senhoras, como sempre, nervosas: / - "Meu Deus, esse homem morre, Moço! / Coitado, olha aí, está se esvaindo em sangue' /
- 'Ora, minha senhora, dê-lhe óleo acanforado, / penicilina, estreptomicina crebiosa, engrazida e até vacina Salk' / Mas o homem já estava frio. / Agora, o malandro que é malandro não denuncia o outro / espera para tirar à forra. / Então diz o malandro: / Vocês não se afobem / Que o homem dessa vez / Não vai morrer / Se ele voltar dou pra valer / Vocês botem terra nesse sangue / Não é guerra, é brincadeira / Vou desguiando na carreira / A justa já vem / E vocês digam / Que estou me aprontando /Enquanto eu vou me desguiando / Vocês vão ao distrito / Ao delerusca se desculpando / Foi um malandro apaixonado / Que acabou se suicidando.
De tudo isso o que se pode concluir nessa música, especificamente é a invisibilidade da mulher, que não tem voz na história contada sobre a agressão sofrida, como também, não é o ataque físico padecido por ela o que vem ao caso.  O que está em questão aí é a correlação de força entre os dois homens onde um deles investiu contra a “propriedade do outro” – nesse caso a mulher espancada – permitindo-se a ter uma ação ofensiva contra a referida mulher, que só cabia por direito, a quem tinha com a mesma, uma relação de convivência sexual.
Músicas como essas, existem aos montes, cantadas e recantadas em clima de alegria e descontração, como se isso fosse o fato mais natural do mundo.
Elas Servirão para no futuro ficar como registro memorial – do quanto no início do século 21, continuava vigorando o clima de uma barbárie sem conta, nas relações entre homem e mulher.
Mas, a nossa voz será ouvida nas crônicas que servirão de critica e denúncia e, serão a prova cabal de que o movimento de mulheres agia energicamente para garantir a integridade física da mulher. Além do que, havia a luta incessante pela cidadania plena para, em casos como esses, houvesse punições mais severas para inibir essas práticas permissivas por um sistema patriarcalista, ainda em voga. 

Veja a Letra na íntegra:

Na Subida do Morro
Autoria e Interpretação: Moreira da Silva


Na subida do morro me contaram
Que você bateu na minha nêga
Isso não é direito
Bater numa mulher
Que não é sua
Deixou a nêga quase nua
No meio da rua
A nêga quase que virou presunto
Eu não gostei daquele assunto
Hoje venho resolvido
Vou lhe mandar para a cidade
De pé junto
Vou lhe tornar em um defunto
Você mesmo sabe
Que eu já fui um malandro malvado
Somente estou regenerado
Cheio de malícia
Dei trabalho à polícia
Prá cachorro
Dei até no dono do morro
Mas nunca abusei
De uma mulher
Que fosse de um amigo
Agora me zanguei consigo
Hoje venho animado
A lhe deixar todo cortado
Vou dar-lhe um castigo
Meto-lhe o aço no abdômen
E tiro fora o seu umbigo
Aí meti-lhe o aço, quando ele vinha caindo disse,
- 'Morengueira, você me feriu",
Eu então disse-lhe:
- 'É claro, você me desrespeitou, mexeu com a minha nega'.
Você sabe que em casa de vagabundo, malandro não pede emprego. Como é que você vem com xavecada, está armado? Eu quero é ver gordura que a banha está cara!
Aí meti a mão lá na duana, na peixeira, é porque eu sou de Pernambuco, cidade pequena, porém decente, peguei o Vargolino pelo abdome, desci pelo duodeno, vesícula biliar e fiz-lhe uma tubagem; ele caiu, bum!, todo ensangüentado.
E as senhoras, como sempre, nervosas:
- "Meu Deus, esse homem morre, Moço! Coitado, olha aí, está se esvaindo em sangue'
- 'Ora, minha senhora, dê-lhe óleo acanforado, penicilina, estreptomicina crebiosa, engrazida e até vacina Salk'
Mas o homem já estava frio. Agora, o malandro que é malandro não denuncia o outro, espera para tirar a forra.
Então diz o malandro:
Vocês não se afobem
Que o homem dessa vez
Não vai morrer
Se ele voltar dou prá valer
Vocês botem terra nesse sangue
Não é guerra, é brincadeira
Vou desguiando na carreira
A justa já vem
E vocês digam
Que estou me aprontando
Enquanto eu vou me desguiando
Vocês vão ao distrito
Ao delerusca se desculpando
Foi um malandro apaixonado
Que acabou se suicidando.