quarta-feira, agosto 22, 2018

VI E NÃO GOSTEI!!!!!!!

Semana passada, fui assistir a peça “Nossas Mulheres”, cujo título me despertara curiosidade, pois segundo divulgação na internet, só havia no elenco, apenas três (03) atores (masculinos).
Pensei, então, no porquê de tal título Nossas Mulheres com tratamento gramatical no pronome possessivo. Subtendia, no caso, que as pessoas mulheres intituladas seriam objeto de posse, ou seja, pertenceriam aos três personagens homens?
Minha curiosidade acresceu mais ainda, quando ao chegar ao teatro e ler o programa da peça, onde, ao informar sobre o espetáculo, lá estava escrito, entre outras coisas, que a (comédia) “ao contrário do que sugere o título, direciona o olhar do espectador para o comportamento das três personagens masculinas” (aqui cabe um adendo: faltou incluir no texto, o olhar “do Público” espectador, porquanto, no dia em que fui assistir, a plateia era, predominantemente, mulheres e, a maioria delas, idosas).
Em outra página do programa havia um destaque sobre AMIZADE – ÉTICA e FEMINICÍDIO denotando que “a peça trata desses três temas através do olhar e da narrativa masculina” (...) “de 3 velhos amigos” (...) “devido a um crime cometido por um deles”. O texto finaliza, dizendo esperar que, a peça “possa contribuir para discussões sobre o comportamento masculino na sociedade moderna, sobre o respeito às mulheres e sobre as liberdades individuais”.
Mas, aí, eu já estava cabreira com o uso do feminicídio expressado em tom de comédia. Porém, não tinha ideia do que viria pela frente até ter assistido, muito a contragosto, a peça e me questionando todo o tempo, se valia a pena ficar até o final.
Resumindo, o texto em minha opinião é um escracho, do início ao fim. É uma comédia de mau gosto que naturaliza no decorrer do enredo as várias formas de violência física, moral e psicológica à mulher, mesmo diante do final inesperado, que a meu ver, exalta o suposto assassino.  
E, apesar de ter como  intérpretes, três excelentes atores, experientes e talentosos, os quais, possuem o perfeito domínio cênico no palco, além de, serem dotados de um ótimo timing na encenação humorística, ao ponto de fazer a plateia rir às gargalhadas, de algo tão sério, como é o Feminicídio, em tudo por tudo, deixa muito a desejar. Basta ver o modo como o tema é tratado nesse espetáculo teatral. O texto é demasiadamente agressivo e, totalmente, inapropriado. Principalmente, se levarmos em conta o momento atual.  Estamos vivenciando  uma incidência enorme nos crimes de gênero, em que mulheres são assassinadas, não só no nosso país, mas no mundo inteiro. O feminicídio – tipo de violência que já está contida no Código Penal brasileiro é considerado crime hediondo, quando se trata de assassinato praticado contra as mulheres, motivado pela condição de gênero e causado pelos sentimentos de desprezo, posse e ódio ao sexo feminino. E, também, quando tal crime envolve menosprezo e discriminação à mulher, causa primordial da violência doméstica e familiar. Esse crime, que tem atingindo proporções significativas da população feminina em todo o mundo, continua a ceifar a vida de tantas e tantas mulheres no Brasil. Tanto que, no ranking mundial de mortes de mulheres, nosso país está na quinta maior posição no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Logo, não entendo porque usar essa triste e nefanda ocorrência do Feminicídio, para fazer comédia, nem mesmo que seja como dizem no programa da peça, ser a melhor forma de “contribuir para a discussão sobre o comportamento masculino na sociedade moderna”,  (pelo que vi nada houve que levasse a essa contribuição), principalmente, no que se refere ao relacionamento  desses tipos de homens, com as companheiras na vida em comum e, muito menos, sobre o “respeito às mulheres”.  Para mim, o bate-papo que se dá entre amigos durante a encenação, não passou de um exercício perverso de linguagem misógina, o qual, só fez  ratificar a superioridade da palavra do homem, sempre quando se trata de hostilizar, menosprezar e depreciar a mulher que por  na peça ser uma figura invisível, não tem nem vez, nem voz. E tenho dito aqui, minhas impressões de desagrado total.