domingo, março 08, 2009

Protestando no Dia Internacional da Mulher

Chegamos ao século 21 e estamos no dia 8 de março de 2009, ainda testemunhando a violência de gênero praticada pelo homem contra a mulher.
O que acontece, é que as mulheres continuam carregando esse fardo sócio-cultural “infame”, na sua forma mais perversa, pois mesmo com todas as conquistas adquirida na trajetória feminista, fruto da pluralidade de vozes, na luta exaustiva e inabalável de mulheres em movimento por todo o planeta, continua sendo registrado em qualquer lugar do mundo, alta incidência de agressão às mulheres, seja ela física, sexual, moral, psicológica étnica, racial, patrimonial e tantas mais.
Sabemos que essa violência está especificamente relacionada às relações de gênero que, nos seus parâmetros conceituais, determina a superioridade “masculina” frente à inferioridade “feminina”, como se isso fosse inerente e natural à espécie humana, quando na verdade, nada mais é do que uma construção cultural.
Atenção, pois é aí onde o nó aperta. Se quisermos construir um mundo mais harmônico entre os sexos, nessa nova era em curso, temos que desatá-lo mais depressa do que imediatamente.
É preciso, desconstruir preceitos éticos, normas sociais, valores morais e significados culturais caducos, de subordinação de um sexo dito como “frágil”, ao outro, denominado “forte” e que, até então, só serviram para embasar a desigualdade entre gêneros e permitir a complacência social diante de tantos e tantos atos de violência cometidos contra a mulher.
O movimento feminista está e continará, em vigilância constante, na certeza de que é preciso e necessário ampliar a nossa indignação para a sociedade como um todo. Só com o apoio da opinião pública terminaremos por acabar de vez com tudo isso.
A prova de que é possível mudarmos mentes e corações vamos encontrar na música popular. A ação combativa envolve cada vez mais, mulheres e homens, que antes, se colocavam a distância da discussão de gênero e, agora, começam a assumir uma posição firme na questão da violência contra a mulher.
Vejamos abaixo, em dois períodos separados por décadas de distância - um do outro - dois exemplos díspares de mulheres cantoras de prestígio nacional interpretando duas composições de autoria masculina. As duas reproduzem o discurso do homem travestido em palavra de mulher, mas as mensagens das letras são totalmente diversas. Cada uma delas (Aracy e Alcione) ao se reportar ao tema, se posicionam a favor(1945) e contra (2007) a violência conjugal, mesmo que no segundo caso a letra "Maria da Penha", contenha uma séria imprecisão homofóbica, ao se aventar em um dos versos, a idéia que o homem quando bate em mulher é homossexual enrustido.
Parabéns pra você (Haja o que houver)
Ano - 1945
Wilson Batista / Roberto Martins
Canta: Aracy de Almeida
Bata, se queres bater
Será pra mim um prazer
Ajoelhar-me no chão
Pedindo perdão
De um mal que não fiz.
De você só quero isto
Que você saiba que existo
E o mal que vem de você
Me fará feliz.
Xingue, maltrate, eu sou tua
Pode jogar-me na rua
E coitadinho daquele
Que se intrometer
Eu vou dizer e repito
Você é meu infinito
Haja o que houver cantarei
Parabéns pra você.


Maria da Penha
Paulinho Resende / Evandro Lima
Ano - 2007
Canta: Alcione

Comigo não, violão
Na cara que mamãe beijou
Zé Ruela nenhum bota a mão
Se tentar me bater
Vai se arrepender
Eu tenho cabelo na venta
E o que venta lá, venta cá
Sou brasileira, guerreira
Não tô de bobeira
Não pague pra ver
Porque vai ficar quente a chapa
Você não vai ter sossego na vida, seu moço
Se me der um tapa
Da dona "Maria da Penha"
Você não escapa
O bicho pegou, não tem mais a banca
De dar cesta básica, amor
Vacilou, tá na tranca
Respeito, afinal,é bom e eu gosto
Saia do meu pé
Ou eu te mando a lei na lata, seu mané
Bater em mulher é onda de otário
Não gosta do artigo, meu bem
Sai logo do armário
Não vem que eu não sou
Mulher de ficar escutando esculacho
Aqui o buraco é mais embaixo
A nossa paixão já foi tarde
Cantou pra subir, Deus a tenha
Se der mais um passo
Eu te passo a "Maria da Penha"
Você quer voltar pro meu mundo
Mas eu já troquei minha senha
Dá linha, malandro
Que eu te mando a "Maria da Penha"
Não quer se dar mal, se contenha
Sou fogo onde você é lenha
Não manda o seu casco
Que eu te tasco a "Maria da Penha"
Se quer um conselho, não venha
Com essa arrogância ferrenha
Vai dar com a cara
Bem na mão da "Maria da Penha".