quarta-feira, agosto 21, 2019

Alice Guy, a primeira diretora de cinema do mundo

Retrato da cineasta Alice Guy
Nascida em 1873, pioneira francesa dirigiu e produziu centenas de curtas e fez reflexões sobre igualdade de gênero. Festival de cinema mudo presta homenagem ao legado da cineasta.
Alice Guy (1873-1968) não vivenciou sua redescoberta como cineasta
Alice Guy bei Dreharbeiten
Alguns atribuem a Guy a primeira direção de um filme de não ficção

Graças à crescente consciência sobre a igualdade de gênero no cinema, uma pioneira esquecida da sétima arte está de volta aos holofotes: Alice Guy (1873-1968) está sendo homenageada no Stummfilmfestival, o mais importante dedicado ao cinema mudo da Alemanha, em Bonn, em que será exibida uma seleção das obras da cineasta francesa, acompanhada de música ao vivo.
"Após o movimento #metoo e discussões sobre igualdade de gênero, uma nova pesquisa dedicada a Alice Guy permitiu que especialistas descobrissem que ela dirigiu mais filmes do que se pensava; filmes que foram atribuídos a seus colegas diretores nos primórdios do cinema", explica Stefan Drössler, diretor do Museu do Cinema de Munique.
Por muitos anos, Drössler foi curador do renomado International Silent Film Festival (Festival Internacional do Cinema Mudo) em Bonn. Antes, ele também organizara exibições de filmes de Alice Guy na Universidade de Bonn – em alguns casos, sem mesmo se dar conta de que ela era a diretora das obras.
Drössler menciona, por exemplo, A fada do repolho (título original: La fée aux choux), incluído na programação do festival de 2019. "Nós já o havíamos mostrado em Bonn no ano passado, mas não foi registrado como um filme de Alice Guy". Agora, A fada do repolho foi restaurado digitalmente e faz parte da programação do festival, desta vez com o devido crédito à diretora.
Os filmes dos primeiros anos do cinema não tinham créditos como se conhece hoje, explica Drössler, normalmente só se apresentava o título. Os cineastas pioneiros produziam muito rapidamente, como numa linha de montagem. Só mais tarde especialistas tentaram determinar seus autores. E eles eram quase exclusivamente homens.
Através de digitalização, pesquisa aprofundada e uma consciência diferente sobre o papel das mulheres nos primórdios do cinema, os créditos de algumas obras estão sendo reatribuídos.

Joana Guimarães Luz é a primeira reitora negra em uma universidade federal no Brasil

Fonte: Marie Claire

Joana, que hoje tem 61 anos, nasceu em Itajuípe (BA) e acredita que a diversidade de pessoas no ambiente de pesquisa abre portas para inovação e ajuda a mudar o mundo.
Joana Guimarães Luz (Foto: Sirc)

Das memórias mais vivas da infância, Joana Guimarães Luz gosta especialmente de se lembrar de uma: a fome da mãe pela leitura. “Na minha cabeça ficou a imagem dela devorando Monteiro Lobato em uma tarde quente na nossa primeira casa, no interior da Bahia.” Joana, que hoje, aos 61 anos, é reitora na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em Itabuna, é a primogênita de uma família de seis filhos que se mantinha com o plantio e a colheita de cacau em fazendas no interior do estado. Mais precisamente em Itajuípe, cidadezinha de 21 mil habitantes. “Vivíamos na roça, mas um dia minha mãe decidiu nos levar para Salvador, onde teríamos uma educação melhor e chances de sair da miséria. Eu tinha uns 9 anos. No fundo, ela sabia que só a educação nos salvaria. Foi justamente o que aconteceu. Todos os meus irmãos seguem profissões sólidas originadas na faculdade”, conta ela.
É de Joana o título de primeira reitora negra eleita em uma universidade federal no Brasil. O cargo, que ocupa desde o final de 2017, se transformou em uma espécie de “vitrine positiva” para outras mulheres negras que sonham em seguir seu feito. “Sei da força da representatividade que exerço estando onde estou. A maioria dos reitores no país são homens brancos. Temos 63 universidades federais e somente 19 mulheres no comando delas. Quando falamos de negras, o cenário é pior. Eu sou a única em atividade”, diz.
Nesta entrevista, Joana conta de suas origens, da influência dos pais, trabalhadores rurais apaixonados pelos livros, e do desafio que tomou para si: o de construir uma universidade mais diversa e aberta para todos.
MARIE CLAIRE Sobre sua família: os seus pais, assim como você, puderam estudar?
JOANA GUIMARÃES
 Até um certo ponto. Meu pai estudou até a quarta série e, por isso, sabia ler e escrever. Minha mãe estudou até a segunda, e sabia ler. Inclusive, era o que ela fazia quando tinha tempo livre. Cresci numa casa em que a leitura era um hábito e um prazer. Ensinaram isso para todos os filhos. Mais tarde, meu pai conseguiu um emprego em Salvador, e às vezes chegava a pensar em voltar para a roça com a justificativa de que lá, pelo menos, nunca nos faltaria comida. Mas minha mãe dizia: “Morro de fome, mas meus filhos não saem da escola”.
MC Parece que a obstinação da sua mãe de fato transformou o futuro de vocês. Todos os seis filhos conseguiram terminar os estudos?
JG 
Todos. Tem até uma outra história minha que vale contar. Assim que entrei em minha primeira faculdade, de filosofia, fui aprovada em um concurso da Caixa Econômica e foi um dilema, aceitar o trabalho, que pagava bem e podia melhorar a situação da minha família, ou seguir com o curso, que era de período integral. Meu pais me disseram para estudar e negar o emprego. Se a gente tinha vivido até ali naquelas condições, podia segurar mais uns anos. Foi o que fiz.