sábado, abril 22, 2017

Carolina Maria de Jesus, favelada e negra é uma das grande escritora do nosso país

Carolina Maria de Jesus (1914-1977) nasceu em SacramentoMinas Gerais, numa comunidade rural onde seus pais eram meeiros. Moradora da favela do Canindézona norte de São Paulo, ela trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Ela é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.
Aos sete anos, a mãe de Carolina forçou-a a frequentar a escola depois que a esposa de um rico fazendeiro decidiu pagar os estudos dela e de outras crianças pobres do bairro. Carolina parou de frequentar a escola no segundo ano, mas aprendeu a ler e a escrever. A mãe de Carolina tinha dois filhos ilegítimos, o que ocasionou sua expulsão da Igreja Católica quando ainda era jovem. No entanto, ao longo da vida, ela foi uma católica devota, mesmo nunca tendo sido readmitida na congregação. Em seu diário, Carolina muitas vezes faz referências religiosas.
Em 1937, sua mãe morreu e ela se viu impelida a migrar para a metrópole de São Paulo. Carolina construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer coisa que pudesse encontrar. Ela saía todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família.
Quando encontrava revistas e cadernos antigos, guardava-os para escrever em suas folhas. Começou a escrever sobre seu dia-a-dia, sobre como era morar na favela. Isto aborrecia seus vizinhos, que não eram alfabetizados, e por isso se sentiam desconfortáveis por vê-la sempre escrevendo, ainda mais sobre eles.
Carolina mudou-se para a capital paulista em 1947, num momento em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Apesar do pouco estudo, tendo cursado apenas as séries iniciais do primário, ela reunia em casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem ao livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.
Teve vários envolvimentos amorosos quando jovem, mas sempre se recusou a casar-se por ter presenciado muitos casos de violência doméstica. Preferiu permanecer solteira. Cada um dos seus três filhos era de um pai diferente, sendo um deles um homem rico e branco. Em seu diário, ela detalha o cotidiano dos moradores da favela e, sem rodeios, descreve os fatos políticos e sociais que via. Ela escreve sobre como a pobreza e o desespero podem levar pessoas boas a trair seus princípios simplesmente para assim conseguir comida para si e suas famílias.
O diário de Carolina Maria de Jesus foi publicado em agosto de 1960. Ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, em abril de 1958. Dantas cobria a abertura de um pequeno parque municipal. Imediatamente após a cerimônia, uma gangue de rua chegou e reivindicou a área, perseguindo as crianças. Dantas viu Carolina de pé na beira do local gritando "Saiam ou eu vou colocar vocês no meu livro!" Os intrusos partiram. Dantas perguntou o que ela queria dizer com aquilo. Ela se mostrou tímida no início, mas levou-o até o seu barraco e mostrou-lhe tudo. Ele pediu uma amostra pequena e correu para o jornal. A história de Carolina "eletrizou a cidade" e, em 1960, Quarto de Despejo, foi publicado.
A tiragem inicial de 10 mil exemplares se esgotou em uma semana (segundo a Wikipédia em inglês, foram trinta mil cópias vendidas nos primeiros três dias). Seu diário foi traduzido para treze idiomas e tornou-se um best-seller na América do Norte e na Europa. Mas não foram somente fama e publicidade que Carolina ganhou com a publicação de seu diário: despertou também o desprezo e a hostilidade de seus vizinhos, pois, em seu livro, Carolina fala das dificuldades e amarguras da vida na favela. "Você escreveu coisas ruins sobre mim, você fez pior do que eu fiz", gritou um vizinho bêbado. Chamavam-a de prostituta negra, que havia se tornado rica por escrever sobre a favela, mas que se recusava a compartilhar o dinheiro. Muitas pessoas jogavam pedras e penicos cheios nela e em seus filhos. A raiva dos vizinhos também teria sido motivada pela mudança de endereço de Carolina, para uma casa de tijolos nos subúrbios, o que foi possível com os ganhos iniciais da publicação. Vizinhos se juntaram ao redor do caminhão de mudança e não a deixavam partir.
A filha de Carolina, Vera Eunice, hoje professora, contou, em entrevista, que sua mãe aspirava a se tornar cantora e atriz.[1]
Carolina Maria de Jesus morreu em 1977 de insuficiência respiratória, aos 62 anos, pobre e esquecida.
Carolina jamais se resignou às condições impostas pela classe social a qual pertencia. Em uma vizinhança com alto nível de analfabetismo, saber escrever era uma conquista excepcional. Um dos temas abordados em seu diário foram as pessoas do seu entorno. A autora descrevia a si mesma como alguém muito diferente dos outros favelados, e afirmava “que detestava os demais negros da sua classe social”.[carece de fontes]
Ao ver muitas pessoas do seu círculo social sucumbirem às drogasálcool, prostituição, violência e roubo, Carolina lutou para se manter fiel à escrita, e aos filhos, a quem sustentava com latas de comida e roupa que encontrava no lixo, além de vender lixo reciclável. Parte do papel que recolhia era guardado para poder continuar escrevendo.
Escreveu e publicou alguns livros após Quarto de Despejo, porém sem muito sucesso. Seu auge e decadência como figura pública foram fugazes. Isso possivelmente ocorreu devido à sua personalidade forte, que a afastava de muita gente, além da drástica mudança no panorama político brasileiro, a partir do Golpe de Estado no Brasil em 1964, que marginalizaria qualquer manifestação popular.
Além disso, Carolina também escreveu poemascontos e diários breves, embora estes nunca tenham sido publicados. A edição de 1977 do Jornal do Brasil trazia, no obituário da autora, comentários sobre ela supostamente se culpar por não ter sabido aproveitar a sua breve fama, e afirmava que ela havia morrido pobre devido à sua teimosia. Sua história, contudo, continua relevante para a compreensão da condição de vida nas favelas brasileiras da época.
Seu livro foi amplamente lido, tanto na Europa ocidental capitalista e nos Estados Unidos, como nos países do bloco socialista, o chamado bloco oriental e Cuba.
Para o ocidente liberal, seu primeiro livro retratava um sistema cruel e corrupto reforçado durante séculos por ideais colonizadores presentes nas dinâmicas sociais da população, onde o Estado não atuava da maneira correta para reparar tais erros. Já para os leitores comunistas, suas histórias representavam perfeitamente como o Estado se mostrou falho ao longo dos anos no Brasil, colocando em xeque se o mesmo é capaz de organizar as relações sócio-econômicas presentes no dia a dia.
Fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre.
Fonte: Universidade Livre Feminista




sexta-feira, abril 21, 2017

Grupo promove empoderamento de mulheres por meio da literatura

Por: Maria Anna Leal do Portal FolhaPE 
Atuando pelas redes sociais, grupo de amigas conseguiu chamar atenção do público cuja participação tem superado as expectativas
No mês em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta quarta-feira (8), é importante lembrar da participação das mulheres em todos os ambientes, inclusive nos das artes. Na literatura, um grupo vem se destacando exatamente na leitura de autoras: “O Leia Mulheres”. Nesta semana o segmento de Recife tem um encontro marcado na quinta-feira (9), por volta das 19h30, discutindo a obra “O livro das semelhanças”, no edifício Texas, que fica na rua Rosário da Boa Vista, no bairro da Boa Vista.

O clube de leitura “Leia Mulheres”, que incentiva o debate sobre as escritoras e suas obras, vem crescendo e atraindo mais leitores para os encontros mensais. O projeto  começou com apenas três amigas e já possui cerca de 60 mulheres discutindo sobre literatura, feminismo e representatividade em e 20 estados e 40 cidades do país, dentre elas Recife.

Atuando pelas redes sociais, o grupo conseguiu chamar a atenção do público cuja participação tem superado as expectativas. “A receptividade tem sido ótima, os grupos de leitura têm sido mistos com presença de homens também”, afirmou Carolina Morais uma das mediadoras do Leia Mulheres Recife.

O foco nas mulheres nasceu quando as idealizadoras Juliana Gomes, Michelle Henriques e Juliana Leuenroth analisaram quantas escritoras eram lidas por ano em comparação aos autores “Começou com a análise de que mesmo nós, que lemos muito, não líamos muitas autoras, nem 50% dos livros lidos no ano eram de autoras”, contou Juliana Gomes.

Pensando em mudar o quadro, o grupo surgiu não só encorajando a leitura, mas também proporcionando debates e quebrando tabus sobre as escritoras e a mulher no mercado editorial. “A iniciativa não tem apenas um caráter literário, mas político. Somos feministas, sabemos o lugar secundário que as mulheres ocupam em muitos setores da sociedade, e isso não é diferente na literatura. Quantos livros de mulheres são lidos nas faculdades de letras, quantos mestrados e doutorados abordam o trabalho de mulheres? Nem precisamos reafirmar que é um total absurdo ainda convivermos com essa realidade, então vamos no caminho da ação, que é chamar as pessoas para ler e debater livros escritos por mulheres”, explicou Carolina Morais.

“Usamos pouco a palavra “feminino” por justamente não haver o termo ‘literatura masculina’. Hoje as mulheres ocupam posições importantes dentro do editorial mas ainda precisamos questionar o menor número de autoras publicadas bem como de mediadoras em eventos literários”, completa Michelle Henriques.

Os livros abordados pelo clube são escolhidos de diferentes formas, normalmente pelas redes sociais ou por votação ao final dos encontros. Os interessados em participar precisam conferir os horários e os locais dos encontros referentes à sua cidade pelas redes sociais, onde as integrantes do grupo estão postando atualizações diariamente.

É um projeto que promete não apenas desconstruir estereótipos, mas também criar uma nova realidade, gradativamente, onde as mulheres sejam mais lidas, representadas e respeitadas. “Então acho que nossa contribuição é essa: trazer a questão à baila por meio de uma ação que nos leve efetivamente a ler e debater livros escritos por mulheres”, explicou Carolina. “Algumas pessoas podem dizer: mas se fecham o grupo sobre o nicho “mulheres” não estão criando uma coisa excludente? Sim, estamos nos fechando, mas porque precisamos nos fortalecer. Se o mercado está preocupado apenas em vender e manter a roda girando, cabe a nós tentarmos mudar esse discurso e criar novos embates e discussões”, concluiu.
Fundadoras e mediadoras do Cclube: a primeira – Juliana Gomes, a segunda – Michelle Henriques e a terceira – Juliana LeuenrothFoto: Divulgação/Leia Mulheres