sábado, julho 04, 2020

Isabel Allende fala sobre o Coronavírus e do medo de morre

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Isabel Allende

"Trancada em sua casa ao lado de seu marido e dois cães, a escritora chilena vive nos Estados Unidos há 30 anos.
Consultada pelo principal medo que implica o vírus, * que é a morte *, a escritora contou que desde que a sua filha Paula morreu, há 27 anos, perdeu o medo para sempre: ′′ Primeiro, porque a vi morrer em meus braços, e percebi que a morte é como o nascimento, é uma transição, um limiar, e perdi o medo no pessoal. Agora, se me pegar o vírus, eu pertenço à população mais vulnerável, as pessoas mais velhas, tenho 77 anos e sei que se me contágio eu vou morrer. Então a possibilidade de morte se apresenta muito clara para mim neste momento, eu a vejo com curiosidade e sem medo.


O que a pandemia me ensinou é a soltar coisas, a perceber o pouco que eu preciso. Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso ir a lugar nenhum, nem viajar. Eu acho que eu tenho demais. Eu vejo à minha volta e digo pra quê tudo isso. Para que eu preciso de mais de dois pratos.
Depois, perceber quem são os verdadeiros amigos e as pessoas com quem eu quero estar.

O que você acha que a pandemia nos ensina a todos? Ele está nos ensinando prioridades e nos mostra uma realidade. A realidade da desigualdade. De como algumas pessoas passam a pandemia em um iate no Caribe, e outras pessoas estão passando fome.
Também nos ensinou que somos uma única família. O que acontece com um ser humano em Wuhan, acontece com o planeta, acontece com todos nós. Não há essa ideia tribal de que estamos separados do grupo e que podemos defender o grupo enquanto o resto das pessoas se esfrega. Sem muralhas, sem paredes que possam separar as pessoas.
Criadores, artistas, cientistas, todos os jovens, muitas mulheres, estão se colocando uma nova normalidade. Eles não querem voltar ao que era normal. Eles estão pensando em que mundo nós queremos. Essa é a pergunta mais importante neste momento. Aquele sonho de um mundo diferente: pra lá temos que ir.
E eu reflexo: Eu percebi em algum momento que você vem ao mundo perder tudo. Quanto mais você vive, mais perde. Você vai perdendo seus pais primeiro, pessoas às vezes muito queridas ao seu redor, seus animais de estimação, lugares e suas próprias faculdades também. Não se pode viver com medo, porque te faz imaginar o que ainda não aconteceu e sofre o dobro. É preciso relaxar um pouco, tentar apreciar o que temos e viver no presente.
Isabel Allende

Jequitinhonha (MG), versos que ajudam bordadeiras é enviado para Chico Buarque que responde com outro verso

Lia Hama
Colaboração para Ecoa, em São Paulo
02/07/2020 

"Oi, Marli! Chico Buarque. Tô te mandando versinhos também. Beijo!". Moradora do Vale do Jequitinhonha, na região do semiárido de Minas Gerais, Marli de Jesus Costa foi surpreendida no início de maio com a mensagem de seu ídolo e os versinhos cantados por ele:
Durante a noite inteira

Escuto como quem sonha
A Marli bordadeira
Lá de Jequitinhonha

Era uma resposta aos versos que a bordadeira, costureira e lavradora de 41 anos havia enviado dias antes ao músico e compositor carioca: 
A lua já vem saindo 

De trás do pé de fulô 
Não é lua não é nada 
É o Chico puro amor 


Joguei meu barquinho na água 
Com carinho e amor

Chico você é tão lindo 

Que nem sereno na flor

Bordadeiras de Curtume, no Vale do Jequitinhonha (MG)
Imagem: Érika Riani / Divulgação


Marli é integrante do projeto Versinhos de Bem-Querer, que vende, por meio de uma plataforma digital, versinhos cantados por mulheres de comunidades rurais do Jequitinhonha. Helena, filha de Chico Buarque, havia encomendado um para uma amiga. Marli resolveu aproveitar a oportunidade e acrescentou, por conta própria, outro para seu ídolo. Por meio da filha Helena, o compositor o recebeu e retribuiu. "Chico é uma pessoa humilde. Se fosse outro, talvez nem ligasse, mas ele respondeu com um versinho tão bonito, tão suave. Gostei muito, fiquei muito feliz", conta a bordadeira, que ainda enviou uma tréplica ao músico.

O Versinhos de Bem-Querer foi lançado em março para divulgar a cultura do Vale do Jequitinhonha e, ao mesmo tempo, ajudar as comunidades da região a enfrentarem o impacto econômico da pandemia da Covid-19. "Ficamos pensando em como gerar uma renda rápida para essas pessoas, que ficaram isoladas em suas casas, sem poder trabalhar. Aí lembramos dos versinhos - uma tradição da cultura local, passada de geração em geração - e tivemos a ideia de personalizá-los", explica Viviane Fortes, coordenadora do projeto Mulheres do Jequitinhonha, da ONG Ajenai, e uma das idealizadoras da nova empreitada. Marli de Jesus Costa é bordadeira, costureira e lavradora no Vale do Jequitinhonha (MG)