sábado, março 07, 2020

Rosa Luxemburgo: Um legado para as feministas? Mulher que sonhava a revolução: "A liberdade é sempre a liberdade para o que pensa diferente"

Cem anos atrás era assassinada com um tiro na cabeça a Rosa vermelha da esquerda que tinha dedicado toda a sua existência à luta pela emancipação de trabalhadores e das mulheres.

Em O sufrágio das mulheres e a luta de classes de 1912, Luxemburgo constrói um argumento teórico importante que é relevante para os debates correntes. Ela escreve o seguinte:
“Apenas é produtivo aquele trabalho que produz mais valia e rende lucro capitalista – enquanto o domínio do sistema de capital e de salário se mantiver. Deste ponto de vista uma dançarina num café, que produz lucro para o seu patrão com as suas pernas, é uma mulher trabalhadora produtiva, enquanto que todas as tarefas das mulheres e mães do proletariado dentro das quatro paredes de casa é considerado trabalho improdutivo. Isto soa cru e louco mas é a expressão precisa da crueza e da loucura da ordem económica capitalista de hoje.”
"Não somente os comunistas em torno do mundo honrarão sua memória, mas sua biografia e sua obra completa servirão como úteis manuais para formar muitas gerações dos comunistas em torno do mundo”, escreveu o líder da Revolução RussaVladimir Lenin. Palavras premonitórias: cem anos depois daquela morte brutal, Rosa Luxemburgo ainda é reconhecida como uma das mentes mais brilhantes da ideologia marxista.
Sem esquecer que as relações entre Luxemburgo e Lenin não tinham sido as melhores: Rosa não acreditava na ideia de impor "a emancipação" do proletariado de cima ou na vanguarda do partido que lidera as massas para a revolução. 
Sua primeira revolução tinha sido contra as circunstâncias. Ela tinha nascido judia, mulher e com uma deficiência na perna, em Zamosc, na Polônia controlada pelo Império Russo. Mas não deixou que isso a definisse. Inscrita no Proletariat polonês aos 15 anos de idade, voou para a Suíça antes de se estabelecer em 1898 em Berlim para estar - ela acreditava - no centro da luta comunista.
Quando a primeira Guerra Mundial eclodiu, depois de anos de militância no Partido Social Democrata, ela tomou partido na frente pacifista e, juntamente com Liebknecht criou o Grupo Internacional, que mais tarde se tornou a liga Espartaquista e, finalmente, o núcleo do Partido Comunista alemão.
Em 1916, ela foi presa durante uma greve e sentenciada a dois anos de prisão, mas continuou a escrever e incitar mesmo por trás das grades. Em uma carta da prisão, ela escreveu: "Permanecer um ser humano é a coisa mais importante de todas... Permanecer um ser humano, ou seja, lançar, se necessário, alegremente a própria vida sobre a grande balança do destino, mas ao mesmo tempo alegrar-se com cada dia de sol, com cada bela nuvem... O mundo é tão bonito, apesar de todos os horrores e seria ainda mais bonito se não houvessem na terra os fracos e covardes”.
E ainda, no ensaio "A Revolução Russa", muito crítico em relação a Lenin e os bolcheviques (a ponto de ser publicado na Alemanha Oriental apenas em 1974): "A liberdade apenas para os partidários do governo, apenas para os membros de um partido, por muitos que sejam, não é liberdade. A liberdade é sempre a liberdade para o que pensa diferente".
Quem sabe o que teria acontecido se Rosa não tivesse sido assassinada. Talvez a história tivesse tomado um rumo diferente: talvez a Europa não tivesse conhecido o fascismo ou o comunismo não teria desaguado na ditadura. Nunca o saberemos.
Como escreveu o poeta alemão Bertold Brecht:
A Rosa vermelha desapareceu
Para onde ela foi é um mistério.
Porque ao lado dos pobres combateu
Os ricos a expulsaram do seu império.

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