quarta-feira, julho 22, 2020

Covid mata anciãs que curam, rezam e lutam, e deixa povos indígenas órfãos.

Fonte: Conexão Planeta

A anciã Mônica Renhinhãi'õ era uma índia xavante que vivia na aldeia Aõpá, no município de Alto Boa Vista (MT), e faria 100 anos na última quarta-feira. Vinte cinco dias antes do seu aniversário, entretanto, a Covid-19 a levou. Entre os xavantes, as mulheres são as guardiãs das sementes que dão os frutos. Apesar da idade avançada, Mônica integrava desde 2018 o grupo chamado "Mulheres coletoras de sementes da terra indígena Marãiwatsédé". Quem participava do grupo conta que ela trabalhava todo os dias.


Mônica é uma das 23 anciãs indígenas que morreram vítima da Covid-19 até o dia 30 de junho, segundo dados coletados da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira). Entre os homens, foram 55 casos de mortes acima de 60 anos. Os números, porém, devem ser bem maiores, porque nem todos os índios têm idade confirmada. Para os indígenas, elas não são apenas idosas que partiram. A tradição garante aos anciãos a missão de serem guias de gerações com ensinamentos, histórias e missões nas terras indígenas na Amazônia. E as mulheres têm um papel fundamental nesse contexto. Há povos em que as anciãs são as guardiãs das ervas e das receitas e seus segredos de cura. 
Na Amazônia, como o acesso de índios a serviços médicos é raro, a maioria absoluta dos problemas de saúde são resolvidos entre eles mesmos nas aldeias. Entre os índios, a morte de uma anciã ou um ancião é tratada como se uma biblioteca viva fosse perdida, é um conhecimento que se esvai.
Nesse cenário, a Covid-19 tem destruído várias dessas bibliotecas. Universa conta aqui um pouco das tradições seculares das mulheres idosas que deixaram a vida para se tornarem história de seus povos. Lusia dos Santos Borari, 87, foi a primeira indígena a morrer por Covid-19 no país, em 19 de março, em Alter do Chão (PA). Segundo a conselheira Distrital de Saúde Indígena e liderança no Baixo Tapajós, Luana Kumaruara, dona Lusia era tataravó e deixou um cacicado formado só por mulheres indígenas chamado Sapu Borari.

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