domingo, fevereiro 15, 2009

Maysa canta o que pensa

As canções de Maysa revelam a mesma postura decidida que ela assumiu na vida. Enfrentou pesados desafios e preconceitos impingidos depois de sua separação – de um empresário de renome nacional – quando sua atitude independente serviu de escândalo e foi um prato quente para os colunistas sociais e revistas especializadas nesse tipo de notícia. O meio social da época reprovava todo e qualquer desenlace conjugal e via com maus olhos o desquite. Não havia ainda o divórcio e as desvantagens de uma separação atingiam inevitavelmente – única e exclusivamente – as mulheres. A sina da mulher “mal casada” era sofrer suas desditas com resignação e passividade. Perante o fato consumado de uma separação, não podiam também contar com o amparo da justiça feita para atender aos interesses dos homens já que o poder judiciário era composto, na sua totalidade, por eles mesmos.
Quando, uma mulher ou outra, conseguia a duras penas formar-se em Direito, ficava por força de um sistema machista excluída do exercício da magistratura e não podiam – nem por sonho – disputar em concurso público uma vaga para entrar como juíza, procuradora ou desembargadora. Tanto é que a catarinense Thereza Tang, primeira magistrada brasileira, que assumiu em 1954 o cargo de juíza substituta com a devida permissão, feita por escrito do marido, teve que ouvir uma advertência explícita do presidente do Tribunal de Justiça: “A senhora tomou posse como juíza; a senhora é o teste.” Logo, ficava praticamente impossível à mulher botar a mão na colher pra mexer nas leis, totalmente misóginas e androcêntricas - legisladas cuidadosamente, para deixá-las sob a tutela de pais e de maridos.
Cabe aqui um parêntese necessário para que se tenha noção exata da posição jurídica da mulher no tempo de Maysa: pasmem, mas no Código Civil éramos todas equiparadas às crianças, a população indígena e pessoas consideradas loucas. A situação jurídica de nós mulheres, só atenuou quando, em 1962, entrou em vigor o Estatuto da Mulher Casada. Daí em diante, o marido deixou de ser o chefe absoluto da sociedade conjugal e a incapacidade feminina para alguns atos foi invalidada, entre eles, os seguintes: poderíamos nos tornar economicamente ativa sem necessitar da autorização do marido e passamos a ter o pátrio poder compartilhado além do direito à tutela das crianças (fruto da união civil legitimada pelo casamento) bem como, requisitar a guarda em caso de separação.
Nesse clima de contra-senso é que Maysa começou sua carreira artística consagrando-se logo no lançamento das suas primeiras composições no ano de 1956 entre elas “Ouça”:


Ouça,
Vá viver a sua vida com outro bem.
Hoje eu já cansei
De pra você não ser ninguém.
O passado não foi o bastante
Pra lhe convencer
Que o futuro seria bem grande
Só eu e você.
Mas, quando a lembrança
Com você for morar.
E bem baixinho
De saudade você chorar.
Vai lembrar que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu.
E você fez questão de não dar,
Fez questão de negar.


E, “Meu Mundo caiu”:


Meu mundo caiu
E me fez ficar assim.
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim.
Não sei se me explico bem
Eu nada pedi,
Nem à você nem à ninguém
Não fui eu que caí.
Sei que você entendeu
Sei, também, que não vai se importar.
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar.




Com suas composições contundentes e incisivas, atingiu logo, sucesso total, porque uma quantidade enorme de mulheres se identificava com ela em cada uma das temáticas abordadas. Naquele período, muitas também, se defrontavam com a dissolução do casamento. O que valeu a Maysa uma empatia generalizada por parte dessas mulheres, foi o fato dela passar nas suas músicas uma mensagem insurgente, revertendo à condição de vítima para assumir uma postura de auto-suficiência absoluta, como podemos observar na antológica letra “Resposta”:


“Ninguém pode calar dentro de mim
Essa chama que não vai passar.
É mais forte que eu
E eu não quero dela me afastar.
Eu não posso explicar como foi
E nem como ela veio.
E só digo o que penso,
Só faço o que gosto
E aquilo que creio.
E se alguém não quiser entender
E falar, pois que fale.
Eu não vou me importar com a maldade
De quem nada sabe.
Se a alguém interessa saber:
Sou bem feliz assim.
Muito mais do que quem já falou
Ou vai falar de mim.”

sábado, fevereiro 14, 2009

“NÃO FAÇA IDEIAS ERRADAS DE MIM”

Dolores Duran iniciou a carreira artística como cantora, igual a tantas outra do seu tempo, participando de programas de calouros, excursionando em circos e trabalhando como crooner em boates.
Ela passou como um meteoro pela vida, mas deixou um legado de composições inesquecíveis. Não nego que, ás vezes, tenha enveredado pelo excesso de pieguismo, próprio das temáticas amorosas dos anos 50 onde, era costume rimar amor e dor, enquanto de cigarro em cigarro a turma da boêmia tentava afogar as mágoas dos amores frustrados nos copos de bebidas das boates, bares e inferninhos enfumaçados de Copacabana.
Apesar de tudo, ela soube como ninguém, transportar para a música popular um conteúdo de dignidade tremendo, ao elaborar poeticamente as perdas amorosas. Podemos dizer, que foi ela quem inaugurou um novo modo auto-reflexivo de expressar o amor e desamor através da solidão: “ Ai a solidão vai acabar comigo / Eu já não sei o que faço, o que digo(...)” e do desalento existencial depois de uma desilusão amorosa: “Dai-me, Senhor, uma noite sem pensar / Daí-me, Senhor, uma noite bem comum / Uma noite que eu possa descansar / Sem esperança e sem sonho nenhum(...)”
Mas, podemos até considerar que foi a espera - eterno estigma feminino conforme afirmação do escritor semiólogo francês, Roland Barthes em "Fragmentos do discurso amoroso" quando diz: 'historicamente o discurso da espera foi sustentado pela mulher' - a temática que mais a inspirou no conjunto do seu repertório. Também, todas as mulheres eram socializadas para contentarem-se com essa sina desventurada de Penelope, como se fosse essa condição passiva própria da sua "natureza feminina". E mesmo Dolores, mulher totalmente emancipada e independente, registrou com detalhes, essa sensação impar, atribuída ao gênero feminino como condição impositiva nos versos da música “A noite do meu bem”, lançados logo após sua morte e que se transformou num clássico da música popular brasileira:

“Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! como esse bem demorou a chegar
Que eu já nem sei se terei no olhar
Toda ternura que eu quero lhe dar”.

Ao contrário do machismo aquerrido dos seus contemporâneos, Dolores mostrou de maneira incomum, a possibilidade dos amores acabarem sem haver necessariamente culpas ou culpados. Em “Fim de caso”, ela descreve com uma precisão impressionante o desgaste do relacionamento – sem culpa, desespero, choro ou ranger de dentes – pressentido pelo casal nos momentos que antecedem o final de uma relação amorosa:

“Eu desconfio
Que o nosso caso está na hora de acabar
Há um adeus em cada gesto, em cada olhar,
Mas nós não temos é coragem de falar.
Nós já tivemos
A nossa fase de carinho apaixonado
De fazer versos, de viver sempre abraçados,
Naquela base do só vou se você for.
Mas de repente,
Fomos ficando cada dia mais sozinhos,
Embora juntos cada qual tem seu caminho
Que já não temos nem vontade de brigar
Tenho pensado,
E Deus permita que eu esteja errada
Mas, eu estou, ah! Eu estou desconfiada
Que o nosso caso está na hora de acabar”.

Dolores teve que enfrentar situações vexatórias vindas de pessoas retrógradas, principalmente. os machões de plantão, que gostariam de impedir a roda do tempo de girar em favor dessa nova mulher. Pouco se lhe dá, porém o que pensem e falem dela, mesmo se essa crítica ou preconceito partisse de um caso amoroso passageiro ou conjugal.
Igual a ela própria, começa a vislumbrar em outras mulheres, mesmo que fossem em minoria, exemplos de vida similares. Percebe os pontos que tem em comum em termos de audácia ao transgredir os códigos de ética vigente que só as remetiam a um segundo plano e a ousadia de se libertarem dos medos seculares e tornare-se donas de seus próprios destinos. Aproveita e faz uma letra onde repudia a falsa moralidade e repudia nos parceiros amorosos as “Ideias erradas”:

“Não faça idéias erradas de mim
Só porque eu quero você tanto assim.
Eu gosto de você, mas não esqueço
De tudo quanto valho e mereço.
Não pense que se você me deixar
A dor será capaz de me matar.
Um verdadeiro amor não se aproveita
E não se faz senão aquilo que enobrece.
Depois ele se vai, a gente aceita,
A gente bebe, a gente chora, mas esquece.”

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

MULHERES QUE DERAM UM BASTA

Carlota Pereira de Queiróz - única mulher na constituinte de 1934.

Pela primeira vez no Brasil uma mulher é deputada constituinte.


Cabe aqui um lembrete às mulheres contemporâneas – final do século 20 / século 21 – que hoje levam uma existência independente e podem fazer suas próprias escolhas de vida. Não se iludam pensando que não sofrem mais de nenhuma restrição. Ledo engano!!!!!
Logo, é bom saber que nada nos foi dado gratuitamente e de mão beijada, nem muito menos de uma hora pra outra. Conforme ditado popular, “Muita água correu por baixo da ponte” pra chegarmos aonde chegamos e sermos o que somos.
Tudo que temos agora tem sido conquistado palmo a palmo não só por muitas que nos antecederam lutando pelo voto, o acesso ao ensino e ao trabalho, sem nunca, em momento nenhum esmorecerem na cruzada intensa pela autonomia plena. Para tanto, elas bateram de frente com o poder patriarcal constituído que as consideravam cidadãs de segunda classe e lhes negava a obtenção dos direitos democráticos básicos, inalienáveis, fundamentais, essenciais, imprescindível e indispensável a todo ser humano.
Depois do grande passo dessas audaciosas mulheres denominadas sufragistas – ativistas que militaram sem trégua entre o final do século 19 e primeiras décadas do século 20 para nos garantir os primeiros ganhos – nós hoje, suas sucessoras engajadas no movimento de mulheres continuamos incansáveis como feministas e se temos conseguido importantes avanços como cidadãs nos mais diversos espaços, inclusive no campo profissional e político, ao ponto de elevar o nosso grau de participação em pé de igualdade com os homens em todos os recintos sociais e econômicos, antes apenas ocupado somente por eles, uma coisa é certa: estamos há mais de meio caminho andado para acabar com as barreiras culturais, ideológicas, psicológicas, econômicas e sociais. No entanto, ainda há muito a ser conseguido por nós todas em termos de conquista para eliminar de vez a marginalização e a discriminação a que ainda estamos sujeitas em função das relações desiguais de gênero onde a construção de identidades sexuais decorre diretamente das potencialidades de poder e dominação, força, habilidade, coragem, estabelecidos como próprios da masculinidade em contraposição as limitações definidas como próprias da essência passiva da natureza feminina circunscrita à obediência, subordinação, fragilidade, beleza e tudo o mais que limite a capacidade de auto-estima e emancipação nas mulheres.


Bem finalizo esse papo, com um verso da música ”Pra começar”, composição feita, em parceria por Marina Lima e Antônio Cícero, em 1986.


Pra começar
Quem vai colar
Os tais caquinhos do velho mundo
Pátrias, famílias, religiões
E preconceitos
Quebrou não tem mais jeito (...)

Dolores e Maysa - Quebra de Paradigmas

Dolores e Maysa passam a atuar como compositoras no momento exato em que ocorre no cenário musical, o início da ruptura entre o velho e o novo. Ouvem-se os primeiros acordes dissonantes da bossa nova e, ao mesmo tempo, se prenuncia no corpo social um novo tempo para as mulheres. Elas aparecem impondo seus pontos de vista e falando, pela primeira vez, de sentimentos e ressentimentos, sem fazerem de suas palavras o eco da palavra dita feminina.
Podemos também atribuir as duas a difusão de um estilo mais intimista e coloquial na nossa música popular urbana, que ficou conhecido mais tarde como música de fossa. Se a maioria das canções autorais revelava angústia existencial, é porque sentiam na alma o que representava para a mulher a busca de identidade e a consciência do direito de poder e ter desejos individuais. Isto quando a regra geral determinava que devessem somente desejar o bem-estar e a felicidade dos seus, esquecendo totalmente de si mesmas. Individualmente, ao quererem cada uma, do seu modo, ter uma vida independente, afastaram-se do modelo instituído, desfazendo-se de alguns padrões de feminilidade “naturais” da mulher do seu tempo.
E não é fácil ser diferente, principalmente quando essa postura perante a vida significa insubmissão e vontade de mudar. Se por um lado é gratificante, por outro é bastante penoso, porque envolve perdas, solidão e degredo social. Tudo isso ficou registrado nas letras de música que fizeram.
As duas deixaram uma produção musical restrita, devido a morte prematura de Dolores em 1959 e ao exílio voluntário de Maysa em 1961 (passou a cantar muito mais músicas de outros autores do que compor suas próprias canções).
Mas é importante recuperar sempre na memória musical o caráter revolucionário de suas composições considerando principalmente o momento em que foram lançadas.

Ô ABRE ALAS, QUEREMOS PASSAR

Ao fazer um tributo a Dolores e Maysa eu não poderia neste blog deixar de prestar, também, uma homenagem a Chiquinha Gonzaga, que brilhou entre dois séculos ficando no Panteão da Música Brasileira altamente reconhecida – maior entre maiores – como grande compositora e maestrina (mesmo que eu tenha ressalvas às letras em que ela fala da mulher, pois não diferem nem um pouco do discurso masculino da sua época). Afinal, admito que nesse caso seria querer demais. Estamos nos reportando a um tempo onde mulher era um zero a esquerda na sociedade. Daí, para coadunar uma conduta pessoal rebelde e combativa a um discurso contestador, reivindicativo que manifestasse o pensamento feminista como é expresso atualmente seria praticamente inadmissível. Mas, bem que seria o máximo da glória ouvir em algumas das suas composições uma defesa veemente da integridade sexual da mulher e pela transformação de papéis sociais, batendo de frente contra o imaginário coletivo eminentemente masculino, daquela época, não é mesmo?
Deixando as elucubrações de lado o que importa aqui é o fato dela ter sido altamente precursora na sua vida de mulher e artista profissional ao ter a audácia aguerrida de enfrentar todos os preconceitos de gênero que recaiam sobre seu sexo. Mostrou que sua especificidade genética de “fêmea criadora” não lhe impedia a criatividade musical.
Como legado de toda uma vida produtiva – além da recompensa da vitória nas lutas empreendidas pela abolição da escravatura e também em favor de sua própria libertação, ao fazer pouco caso dos grilhões morais com que tentaram acorrenta-la a uma vida comum de perfeita dona de casa mostrou que tudo que fez valeu a pena. E como valeu! Ela deixou-nos um acervo de mais de duas mil composições.

Ela lutou, pariu, criou.
Ela é da lira
Quem há de negar?



sábado, fevereiro 07, 2009

Mulheres como Dolores e Maysa fizeram à diferença

A propósito das duas séries que a rede Globo exibiu sobre as compositoras/cantoras Dolores Duran e Maysa, me veio logo a mente o tributo que lhes fiz no meu livro “A Musa sem máscara”, Editora Rosa dos Tempos, distribuição Record.
Ali, ressalto, o fato de ambas - cada uma ao seu modo - terem assumido uma postura bem independente e, pra lá de emancipada para a época, diferenciando-se - mesmo que instintivamente - da maioria quase que absoluta das mulheres de então.
Ainda que essa tomada de posição tenha cobrado a elas um tributo bem alto - a bem da verdade, não só a elas, mas a toda e qualquer mulher que saísse da linha - uma coisa é certa, elas aproveitaram pra valer da auto-suficiência adquirida e, bem ou mal, viveram intensamente livres e soltas, se lixando pra opinião alheia. Empregaram sim, toda a autonomia conquistada existencialmente para manterem-se independentes, ultrapassando a demarcação moral / ética e social imposta às mulheres do seu tempo.
Haja vista que, emancipando-se do papel de cantoras, pura e simplesmente, foram assumindo como compositoras trajetórias artísticas ultra-vanguardistas, sendo desse jeito, que conquistaram o maior êxito no campo profissional, privilégio incondicional dos compositores homens. Mesmo assim, os repertórios delas duas, recheados de músicas autorais obtiveram larga difusão feito incomum naquele período à mulher que se atrevesse a lançar sua própria composição musical .
A bem dizer, o sucesso das duas, decorreu do fato de terem chegado ao auge da carreira artística dizendo o que pensavam sem ficar mais sob a sombra tutelar dos autores. A partir daí, foram sendo reconhecidas como celebridades, principalmente, devido ao fato de serem, excelentes autoras, interpretando, também, suas próprias criações musicais. Como compositoras passaram a ser reconhecidas aplaudidas e admiradas pelo público e por seus colegas de profissão. Chegaram até a brilhar como estrelas maiores, estourando com musicas suas nas paradas de sucesso e com maior intensidade do que muitos autores competindo com eles de igual pra igual, dando inicio assim, ao remate do monopólio machista na MPB . Com isso quebraram o monopólio quase absoluto num universo dominado totalmente pelos homens.

AGUARDEM. LOGO VOLTAREI A FALAR SOBRE ELAS. É PORQUE ESTOU SEM TEMPO AGORA. ENQUANTO ISSO, FICAREI GRATA SE RECEBER QUALQUER COMENTÁRIO.


Bom final de semana

segunda-feira, agosto 25, 2008

Convite

Olá! Estou esperando por você(s) na solenidade de posse do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Pernambuco – CEDIM/PE, a ser realizada no dia 25 de agosto de 2008, às 16h, nos jardins do Palácio do Campo das Princesas, com a presença do Governador Eduardo Campos e demais autoridades.
É importante enfatizar que a solenidade representa um evento sem precedentes na história das lutas das mulheres em Pernambuco, razão pela qual a Secretaria da Mulher do Governo do Estado de Pernambuco espera contar com a sua presença na ocasião do ato solene, onde eu fui eleita uma das Conselheiras.
Um grande abraço e até lá.
Maria Aurea Santa Cruz

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

LETRA "AI, QUE SAUDADES DA AMÉLIA" e "EMÍLIA"


NINGUÉM MERECE SER AMÉLIA MUITO MENOS EMÍLIA

Ai que saudade da Amélia – 1941
Ataulfo Alves / Mário Lago

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê você quer
Ai meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Ãs vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não Ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: - meu filho o que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade.


Emília – 1942
Wilson Batista /Haroldo Lobo

Quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar
Que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar
Só existe uma
E sem ela eu não vivo em paz
Emília, Emília, Emília
Não posso mais

Ninguém sabe igual a ela preparar o meu café
Não desfazendo das outras, Emília é mulher
Papai do céu é quem sabe a falta que ela me faz
Emília, Emília, Emília
Não posso mais.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

ARTIGO

Será que Amélia ainda é “aquilo”?



Amélia faz parte da memória social brasileira como exemplo maior de submissão da mulher. Tudo por conta do samba homônimo “Ai, que saudade da Amélia” lançado no carnaval de 1941 descrevendo-a como a mulher de verdade. A letra atingiu em cheio o imaginário coletivo a tal ponto que virou verbete no Aurélio como : “mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem”.
Apesar dessa pecha, virou sucesso estrondoso por várias décadas. As ouvintes mulheres custaram a se contrapor ao conteúdo misógino da mensagem onde a personagem em questão chega a ser vítima de uma anorexia impositiva: “às vezes passava fome ao meu lado / e achava bonito não ter o que comer”. Pasmem, mas seus maiores predicados resumiam-se a nada querer, nem tampouco "tinha a menor vaidade". Assim mesmo, era uníssona entre homens e mulheres a opinião sobre a Amélia: “Aquilo sim é que era mulher”.
Mas ela não era a única. Havia a Emília, também campeã nas paradas de sucesso surgida no mesmo ano e com o mesmo feitio de sujeição total e absoluta ao parceiro de cama e mesa. Só que acompanhava entre outras característica um adicional utilitário: “quero uma mulher / que saiba saiba lavar e cozinhar(...) além de outra vantagem – a função de despertador: “que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar”(...). Sem falar na seguinte prerrogativa: nas tarefas domésticas era imbatível: “ninguém sabe igual a ela / preparar o meu café / não desfazendo das outras / Emília é mulher
(...) Na trilha dessas mulheres seguiram outras e outras até chegar ao século 21. Resta, portanto, saber quantas mulheres por ai continuam a levar hoje em dia uma vida de Amélia?

terça-feira, dezembro 25, 2007

Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo

Hoje estive pensando sobre qual poderia ser a minha mensagem de Natal e Ano Novo. Então, lembrei-me Nietzsche quando ele fala “Das Três Metamorfoses” que a humanidade passou para recriar uma nova vida em cada novo tempo .
De forma metafórica ele logo indicou de cara o espírito “CAMELO”, que por sua constituição conservadora aceita tudo que é imposição e tem a obrigação do dever fazer sem contestar jamais. Depois, o espírito vira rebelde transformando-se em “LEÃO”. É quando ele deixa de ser pau-mandado, passa a reagir e começa ser do contra. Daí em diante são criados novos valores morais e éticos.
Mas, esse espírito só chega a perfeição quando se transforma em “CRIANÇA” nascida sem culpa, sem revolta, sem nada a dever nem a pagar. Essa criança segundo Nietzsche “é um novo começo, um jogo, uma roda que gira por si mesma, um movimento inicial, um sagrado dizer sim”.

QUE NOSSO ESPÍRITO CRIANÇA PREVALEÇA NO PRÓXIMO ANO NOVO

MARIA AUREA

sábado, dezembro 22, 2007

Leia comentário de Rose Marie Muraro sobre o livro "A musa sem máscara"

“Espantoso como a música popular brasileira retrata a mulher, agindo como um espelho do seu tempo. As músicas do início do século, quase todas escritas por homens, revelam as fantasias masculinas mais comuns: a mulher masoquista, a que gosta de apanhar, a Amélia ou então a “outra”, sedutora traidora e sádica. À medida que a situação da mulher vai mudando, muda também esta imagem, até chegarmos à mulher que é sujeito de si mesma, como em Maria Maria de Milton Nascimento, por exemplo. Assim de repente isso parece óbvio, mas não é. Foi preciso o trabalho de uma mulher consciente, como Maria Áurea, para que esta imagem aparecesse em todo o seu dinamismo. Não conheço trabalho melhor dentre os inúmeros que li sobre a mulher na música popular brasileira. Certamente ele vai trazer para os estudiosos uma outra visão sobre quem escreve e quem canta a nossa música.”

sexta-feira, dezembro 21, 2007

A Musa Sem Máscara


Em 1992, lancei o livro com esse título que descrevia a imagem da mulher na música popular brasileira pela Editora Rosa dos Tempos e distribuído pela Editora Record. O marco inicial da minha análise foi a década de 30 por dois motivos fundamentais: primeiramente, o rádio como meio de comunicação popular começou a se firmar como veículo midiático. Em paralelo, por ter sido nessa mesma década que a mulher brasileira dava os primeiros passos para se firmar plenamente como cidadã. Conquistava o direito ao voto graças à luta das sufragistas. Já o marco final foi o ano de 1988 por coincidir exatamente com a promulgação da "Constituição Cidadã" aprovada depois de um longo e tenebroso período ditatorial, onde prevalecia por decreto, suspensão de todos os direitos democráticos de cidadania desfechado pelo golpe militar de 1964. Vale ressaltar que a escolha para finalizar a pesquisa deveu-se, principalmente ao fato da nova Constituição - diferente de todas as outras anteriores - contar com a palavra da mulher que mesmo tímida na sua representatividade foi demonstrativa de uma participação pública realmente efetiva e jamais vista antes na história política brasileira quando se configurou a presença de mulheres parlamentares indicadas pelo voto direto para atuar publicamente nas decisões políticas do país. Daí o slogan feminista bastante circulado na época que dizia: "Constituinte pra valer tem palavra de mulher". Era um passo a mais no avanço do empoderamento da voz da mulher repercutindo fora do espaço restrito da domesticidade. É como eu disse no livro: “Uma andorinha só, embora não faça verão, pode anunciar a proximidade dele”. Hoje, em pleno século 21 estamos ainda no dia a dia colhendo aquelas mudanças prenunciadas de um novo tempo. Enquanto isso, o verão anunciado naquela época por poucas mulheres começa a iluminar intensamente a vida de toda e qualquer mulher que siga hoje na direção de seus anseios libertários.

É isso aí! Espero a partir de agora reunir aos poucos uma rememoração de toda a caminhada das mulheres e homens para esse "novo tempo, apesar dos castigos (e) dos perigos *".

* Novo Tempo, composição: Ivan Lins / Vitor Martins - 1980

sábado, dezembro 02, 2006

Uma nova imagem de mulher

Em 1992, lancei o livro com esse título que descrevia a imagem da mulher na música popular brasileira pela Editora Rosa dos Tempos e distribuído pela Editora Record.
O marco inicial da minha análise foi a década de 30 por dois motivos fundamentais: primeiramente, o rádio, como meio de comunicação popular começou a se firmar como veículo midiático. Em paralelo, por ter sido nessa mesma década que a mulher brasileira dava os primeiros passos para se firmar plenamente como cidadã. Conquistava o direito ao voto graças à luta das sufragistas.
Já o marco final foi o ano de 1988, pois coincidia com a promulgação da mais nova Constituição feita no Brasil, depois de um longo e tenebroso período ditatorial, onde, prevalecia por decreto, suspensão de todos os direitos democráticos de cidadania, desfechado pelo golpe militar de 1964.
Vale ressaltar que, o tempo datado na pesquisa, exatamente durante a publicação "Constituição Cidadã", assim denominada, por ter se distinguido de todas as outras anteriores não só no que diz respeito ao avanço do empoderamento da voz da mulher repercutindo fora do espaço restrito da domesticidade - mesmo que tímido na sua representatividade – mas, da efetiva participação pública, jamais vista antes na história política brasileira.
A presença de mulheres parlamentares indicadas pelo voto direto para atuar publicamente nas decisões políticas do país. É como eu disse: “Uma andorinha só, embora não faça verão, pode anunciar a proximidade dele”.E, hoje estamos diante das mudanças que aquele momento prenunciava.
E não é que já chegamos na primavera de um novo tempo para todas as pessoas?!... Enquanto isso o verão anunciado por poucas mulheres começa a iluminar o assomo interminável de mulheres que seguem na direção de seus anseios libertários ruma a uma mesma reta de chegada.
Tudo isso, graças ao movimento feminista que em sua fase de engajamento militante, mais propriamente dita, não cansou de questionar em nenhum momento a distinção fundamentalizada na sociedade considerando os seus papéis sexuais, políticos e pessoais, baseados nas relações generificadas de um mundo que primava, antes de mais nada, pela desigualdade sexual.
Realmente, não se pode negar no movimento feminista